SAÚDE

DENGUE: Região enfrenta surto da doença sem previsão para receber vacinas pelo SUS

Reposição das doses do setor privado é limitada; governador se reuniu com ministra da Saúde na quarta-feira

Publicado em: 08/02/2024 16:58
Última atualização: 08/02/2024 16:58

O Rio Grande do Sul enfrenta uma situação alarmante em relação à dengue, com um aumento de 960% nos casos em comparativo ao mesmo período do ano anterior e duas mortes confirmadas no Estado. Cerca de 94% dos municípios estão infestados pelo Aedes aegypti. O cenário é, portanto, de epidemia, conforme dados divulgados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES).

SIGA O ABCMAIS NO GOOGLE NOTÍCIAS!

Em Novo Hamburgo, a Vigilância Sanitária tem promovido borrifações de produtos químicos em escolas municipaisGiordanna Vallejos/GES-Especial
Em Novo Hamburgo, a Vigilância Sanitária tem promovido borrifações de produtos químicos em escolas municipaisGiordanna Vallejos/GES-Especial
Em Novo Hamburgo, a Vigilância Sanitária tem promovido borrifações de produtos químicos em escolas municipaisGiordanna Vallejos/GES-Especial
Em Novo Hamburgo, a Vigilância Sanitária tem promovido borrifações de produtos químicos em escolas municipaisGiordanna Vallejos/GES-Especial
Em Novo Hamburgo, a Vigilância Sanitária tem promovido borrifações de produtos químicos em escolas municipaisGiordanna Vallejos/GES-Especial
Em Novo Hamburgo, a Vigilância Sanitária tem promovido borrifações de produtos químicos em escolas municipaisGiordanna Vallejos/GES-Especial
Ações contra a dengue em São LeopoldoRomeu Finato
Em Novo Hamburgo, a Vigilância Sanitária tem promovido borrifações de produtos químicos em escolas municipaisGiordanna Vallejos/GES-Especial

Como agravante nesse cenário, em meio a um período de altas temperaturas, o que pode piorar o quadro da doença no Estado, as cidades gaúchas ficaram fora da lista dos locais que receberão as primeiras doses da vacina pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A limitação na distribuição é consequência da capacidade restrita de produção do laboratório fabricante da Takeda, fornecedora da vacina contra a dengue, a Qdenga®.

Na tarde de quarta-feira (7), o governador Eduardo Leite, participou de uma reunião virtual com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, sobre a situação da dengue nos estados e aproveitou para reforçar o pedido para que sejam realizados esforços no sentido de possibilitar o avanço seguro e ágil da produção das vacinas que vem sendo estudadas.

ENTRE NA NOSSA COMUNIDADE NO WHATSAPP

“A vacina pode não ser a solução definitiva, mas há muita expectativa em torno dela, especialmente no que se refere àquela produzida pelo Instituto Butantan, por se tratar de dose única. Então, peço que tenhamos o mesmo esforço que tivemos durante a Covid-19, com toda a segurança necessária para serem realizados os processos de testagem, registro e disponibilização, e assim podermos viabilizar essas vacinas para nossa população”, disse o governador.

A campanha de vacinação priorizará inicialmente pessoas entre 10 e 14 anos, com um esquema de duas doses. “A vacina do fabricante japonês não está liberada para uso em pessoas com mais de 60 anos e pessoas com alergia a algum componente da vacina devem evitar seu uso, assim como gestantes e bebês de colo, além de pessoas com doenças que comprometem a imunidade”, elucida o médico Ricardo Vallejos.

Vacinas limitadas no setor privado

A ausência da vacina no SUS levou a um aumento da procura na rede privada. Segundo a rede de laboratórios Weinmann, a empresa registrou um crescimento de 112% na venda de vacinas contra a dengue no Estado, somente entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024.

Porém, esse cenário mudou com o comunicado da Takeda, que limitou o fornecimento privado das doses na segunda-feira (5). Dessa forma, a maioria das farmácias e clínicas de vacina estão sem estoque ou realizando a aplicação das últimas doses, que tem um preço médio de R$ 380 e necessitam de duas aplicações.

A Takeda, fornecedora da vacina Qdenga®, priorizou o atendimento ao Ministério da Saúde diante do aumento dos casos, limitando o fornecimento no mercado privado. Isso tem gerado preocupações entre a população e os profissionais de saúde, que aguardam mais informações sobre a disponibilidade do imunizante.

Aline Vogt, diretora de uma clínica de vacinas de Novo Hamburgo, explica que está sem doses da vacina, assim como diversas clínicas e farmácias da região. “Conforme comunicado do Laboratório Takeda, o fornecimento da vacina contra a dengue, no mercado privado brasileiro, será limitado para suprir e priorizar as pessoas que já tomaram a primeira dose do imunizante na rede privada. Desta forma, estamos aguardando mais informações do Laboratório para podermos atender aos nossos clientes, visando a conclusão do esquema vacinal já iniciado. No momento, estamos sem nenhuma dose disponível”, disse ela.

Quais são os sintomas mais comuns de dengue?

Conforme o médico Ricardo Vallejos, o número de pacientes suspeitos de dengue vem aumentando muito nas últimas três semanas, com casos diários de pessoas com suspeita de dengue. “A grande maioria dos pacientes se queixa de mal-estar, dor de cabeça, dor no corpo, febre e náuseas com ou sem vômitos. Em seis dias, já atendi como caso confirmado pelo menos 10 pessoas”, disse ele.
Segundo o médico, todo individuo que passar a apresentar febre súbita (podendo chegar a 40 graus), dor de cabeça forte, sensação de fraqueza, dor no corpo, dor abdominal, náuseas e vômitos, manchas vermelhas na pele e do atrás dos olhos, deve buscar atendimento médico urgente.
Ele acrescenta que caso o período de incubação do vírus com o surgimento dos primeiros sintomas é variável, podendo levar 3 a 15 dias, sendo a média de 7 dias. Além disso, a pessoa infectada deve usar repelente diariamente, com aplicação de 3 a 4 vezes por dia, para evitar ser picada pelo mosquito, que ao sugar o sangue infectado e picar uma pessoa sadia, poderá transmitir o vírus da dengue.
Ricardo explica quais são os grupos de risco, que podem ser mais afetados pela doença. “Pessoas com doenças prévias, idosos, bebês ou com problemas de imunidade são as pessoas mais vulneráveis a desenvolver os quadros mais graves como a dengue hemorrágica, podendo levar ao óbito. Por isso, recomendamos buscar atendimento imediato no caso de suspeita de dengue.”

Uma doença incapacitante

Em Campo Bom, moradores como Jeane Martins Knack enfrentam uma batalha árdua contra a dengue. Jeane compartilha sua experiência, destacando os desafios desde o diagnóstico tardio até os sintomas debilitantes.

"Sentia uma fraqueza nas pernas, muita dor na lombar. A doutora nunca achou que fosse dengue. Tive coceira, náuseas, perdi o apetite e tive febre baixa... Não consegui dormir duas noites seguidas. Fiquei uma semana sem conseguir fazer nada."

Em São Leopoldo, Marcela Moraes compartilha uma história semelhante. Sua descrição dos sintomas intensos e das dificuldades enfrentadas destaca a gravidade da doença. "Comecei com dores no corpo, tive muita febre, cheguei a 42 graus. Eu não conseguia ficar de pé, pois sentia muita fraqueza.Tive muita coceira também."

Marcela ressalta a importância da busca por cuidados médicos imediatos e medidas preventivas, enfatizando a rapidez com que a dengue pode se manifestar e a necessidade de conscientização na comunidade.

Estratégias de controle

Diante do aumento expressivo de casos de dengue, o Governo Estadual tem implementado diversas medidas para conter a propagação da doença. O Plano de Contingência Estadual foi atualizado para incluir estratégias específicas de combate às arboviroses urbanas, como dengue, zika e chikungunya.

Uma das iniciativas é o uso de um painel eletrônico de monitoramento de casos de dengue, que fornece dados atualizados e ferramentas de gestão para profissionais de saúde e gestores municipais. Além disso, são emitidos comunicados de risco semanais, identificando áreas com maior potencial para o surgimento de epidemias. O painel pode ser acessado aqui.

Como ajudar a diminuir a proliferação do mosquito da dengue?

Tiago Filipe Steffen, coordenador do Projeto de Prevenção e Combate à Dengue da Universidade Feevale, destaca a importância da ação coletiva no enfrentamento da doença. “Não basta eu revisar, semanalmente, a minha casa e os meus vizinhos não terem o mesmo cuidado, portanto, algo que fará a diferença, tanto na minha casa quanto nos meus lugares de convívio, é conversar com as pessoas e cobrá-las, pacificamente, sobre o cuidado em seus ambientes”, disse ele.

Receitas caseiras para prevenir a dengue são recomendadas?

O coordenador enfatiza que, embora a eliminação dos criadouros do mosquito seja fundamental, é necessário um esforço conjunto da comunidade. Steffen também ressalta a eficácia dos repelentes tradicionais como uma medida preventiva segura. “Repelentes caseiros, com receitas na internet, não são uma opção que indicamos aos moradores. Não é possível saber qual o período de eficácia nem mesmo se algumas pessoas poderão desenvolver alergia a essas opções. Repelentes com a aprovação da Anvisa seguem sendo a opção mais segura.”

O biólogo também ressalta, que para manter o mosquito longe, a utilização de repelentes e roupas longas é a melhor estratégia. Telas nas janelas costumam ser uma boa opção para quem permanece mais tempo em casa.

Conforme o especialista, impedir o mosquito de chegar perto é mais caro que impedir a sua proliferação, por isso, a eliminação do mosquito (quebrando o ciclo reprodutivo através da diminuição de locais com água parada) sempre será a melhor escolha.

A coordenadora de Vigilância Ambiental de São Leopoldo, Maria do Carmo de Moraes, acrescenta que a população retire os pratos de baixo dos vasos de plantas, olhe as calhas, ralos, mantenha as lonas em cima das piscinas bem esticadas e use inseticidas na residência. “Recomendamos que a população faça a vistoria dos seus pátios semanalmente. Tem vindo muita amostra de Aedes aegypti em São Leopoldo, o município todo está infestado. Para denúncias, [a população deve] ligar para 22000736”, explica ela.

Ações nos municípios

Em municípios como São Leopoldo e Novo Hamburgo, as autoridades locais têm intensificado as ações de prevenção e controle da dengue. Em São Leopoldo, por exemplo, a prefeitura tem realizado vistorias diárias em pontos estratégicos, promovendo a eliminação de criadouros do mosquito Aedes aegypti.

A população é incentivada a denunciar possíveis focos do mosquito, contribuindo para o controle da doença. Já em Novo Hamburgo, a Vigilância Sanitária tem promovido borrifações de produtos químicos em escolas municipais, além de capacitar agentes de saúde para lidar com as arboviroses.

Além das borrifações, o Município também adquiriu testes rápidos para diagnóstico precoce para dengue, o que possibilita um manejo mais adequado da doença. Recente Levantamento de Índices do Aedes Aegypti (LIRAa) aponta que os principais criadouros do mosquito em Novo Hamburgo são vasos de flores e pequenos recipientes nos pátios.

Municípios com mais casos confirmados de dengue no RS

- Tente Portela (875)
- Barra do Guarita (305)
- Novo Hamburgo (289)
- Pinheirinho do Vale (141)
- Frederico Westphalen (133)
- Três Passos (130)
- São Leopoldo (123)
- Santa Rosa (119)
- Derrubadas (88)
- Vista Gaúcha (75)
- Cerro Largo (74)
- Iraí (66)
- Porto Alegre (46)
- Canoas (45)

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Matérias Relacionadas