CURIOSIDADE

Dúvidis: por que Mussum falava palavras terminando em is?

Comediante tinha a característica curiosa de acrescentar a terminação -is nas palavras

Publicado em: 13/11/2023 03:00
Última atualização: 16/11/2023 09:37

Mussum anda em alta. A cinebiografia "Mussum, o Filmis" despertou o interesse pela vida e obra de Antônio Carlos Bernardes Gomes (1941-1994), que foi integrante do Grupo Os Trapalhões e um dos primeiros afrodescendentes a fazer sucesso nacional como comediante. Além disso, ele fez história como sambista no grupo Originais do Samba.


O carismático comediante Mussum, que anda em alta por conta do "filmis" Foto: Reprodução

Tudo isso está sendo resgatado e, merecidamente, Mussum está sendo redescoberto. Mas há uma curiosidade sobre o personagem cômico interpretado por ele, que muitos podem nem compreender por causa do contexto que hoje é bem diferente.

Mussum era famoso pelo hábito curioso de acrescentar "is" e "évis" no final das palavras. Por exemplo, um bordão famoso era "Cacildis", que, basicamente, era a interjeição "Cacilda" acrescida do "is". O próprio título do filme em cartaz evoca esta característica linguística, ao falar em "Mussum, o filmis". A Globo também aproveitou o interesse e lançou "Mussum, o podcastis".

Origem

Mas, afinal, por que o "is"? Para entender isso, é preciso lembrar que Mussum faz parte da geração que estudou nos anos 1950. Ele terminou o primário em 1954, fazendo depois curso técnico e se engajando no exército. Ele começaria na televisão em 1965.

Nesta época, os estudantes do primário e até do secundário ainda aprendiam latim na escola. O idioma da Roma antiga não era muito popular entre os alunos, porque era bem difícil, com suas desafiadoras declinações, que são uma espécie de conjugação dada para substantivos e adjetivos, e que pode variar conforme a função sintática.

Muitas declinações e palavras em latim terminam em "is", como "finis", "hominis" e "dominis". Esta é a origem do vocabulário curioso de Mussum.

Antigo "embromation"

Não é que o personagem estivesse falando latim para bancar o erudito. Pelo contrário, ele estava usando de maneira bem-humorada uma característica do idioma que era uma dor de cabeça para muitos estudantes. A terminação "is", naquela época de provas e lições chatas de latim, era o equivalente, nos dias de hoje, a fazer a piada do "embromation", acrescentando um sufixo do inglês a uma palavra do português, para fazer de conta que se está falando outra língua.

Mussum fazia piada com uma exigência escolar com a qual todo mundo estava acostumado nos anos 1950 e 1960. Hoje, com o latim há décadas aposentado dos currículos, ninguém mais associa o jeitão estranho do comediante falar com as terminações latinas. Mas há este curioso contexto histórico por trás. Como diria Mussum, é "engraçadis".

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