ALTERNATIVA PARA REALIZAR SONHO

BARRIGA SOLIDÁRIA: Casal gay de Imbé gera bebê com genética das duas famílias; entenda

Jarbas Mielke Bitencourt, de 47 anos, e Mikael Mielke Bitencourt, de 35, serão os primeiros pais homoafetivos do Sul do Brasil a ter uma filha com DNA dos dois pais

Publicado em: 05/03/2024 11:39
Última atualização: 06/03/2024 13:48

O sonho de construir uma família pode se tornar um desafio para casais homoafetivos. Muitos acreditam que a adoção é a única forma de realizá-lo, mas existem outras alternativas. Uma delas é a barriga solidária, também chamada de útero de substituição. Foi através desse método que o casal Jarbas Mielke Bitencourt, de 47 anos, e Mikael Mielke Bitencourt, de 35, conseguiram gerar a sua primeira filha: Antonella.


Jarbas Mielke Bitencourt, de 47 anos, e Mikael Mielke Bitencourt, de 35, com a amiga Jéssica Konig, 31 anos Foto: Arquivo pessoal

A ansiedade dos dois aumenta conforme o mês de maio se aproxima, quando está previsto o nascimento da bebê. Foi através de uma amiga que os moradores de Imbé, no litoral norte, souberam da possibilidade de ter um filho com fertilização in vitro (FIV) através de um útero de substituição. Quem explicou a eles como funcionava foi Jéssica Konig, 31 anos. Além de abordar o tema, ela ofereceu a própria barriga para o procedimento.

O diferencial é que Antonella terá a genética das famílias dos dois pais. Pois, ao invés de usar um óvulo doado por uma desconhecida, eles usaram um oferecido por Marrie Bortolanza, irmã de Mikael, que foi fecundado com o sêmen de Jarbas. "Somos os primeiros pais homoafetivos do Sul do Brasil a gerar a própria filha com o DNA dos dois pais", afirma Jarbas.


Jarbas Mielke Bitencourt, de 47 anos, e Mikael Mielke Bitencourt, de 35, com a amiga Jéssica Konig, 31 anos Foto: Arquivo pessoal

Juntos há 15 anos, decidiram ter filhos há dois

O casal, que está junto há 15 anos, se conheceu em Imbé, cidade onde moram há 8 anos. Na época, Mikael foi trabalhar no bar que Jarbas tinha na época e eles se aproximaram. "No primeiro momento em que a gente se conheceu, a gente já se apaixonou. A partir daí, a gente já começou a viver intensamente e nunca mais nos separamos", diz Mikael.

Mikael sempre sonhou em ter filhos, mas Jarbas relata que, devido ao medo do preconceito, demorou a se aceitar e não queria ter filho antes de se sentir bem consigo mesmo. O momento chegou junto com a oficialização do relacionamento, em 2022. "O casamento foi um divisor de águas nas nossas vidas. Tanto para com a sociedade, quanto para nossa aceitação de construção de família."

O primeiro caminho foi a adoção e eles até iniciaram o processo para acolher o bebê de uma gestante que queria fazer a entrega voluntária, em um procedimento assistido pela Justiça da Infância e Juventude. Porém, no fim da gestação, a mulher desistiu de entregá-lo. Com o enxoval comprado e com planos para a chegada da criança, eles tiveram que aceitar que não seriam pais naquele momento.

Depois de acompanhar de perto a sofrimento dos amigos, foi que Jéssica pesquisou a respeito e descobriu a possibilidade da gestação de substituição.

A adoção ainda é um desejo do casal. Depois da Antonella, eles pretendem ter mais um filho. "Nós estamos inscritos na adoção para a gente poder ter um filho adotado", conta Jarbas.


Jarbas Mielke Bitencourt, de 47 anos, e Mikael Mielke Bitencourt, de 35, com a amiga Jéssica Konig, 31 anos Foto: Arquivo pessoal

Leia também: Com a volta às aulas e a chegada do outono, casos de crianças apresentando viroses ou infecções respiratórias aumentam.

Da ideia à concretização

O processo para gerar a filha começou em março de 2023. Porém, foi só em agosto que receberam a autorização do Conselho Regional de Medicina (CRM) para fazer a FIV.

Conforme resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), a mulher que empresta o útero deve pertencer à família de um dos parceiros em parentesco consanguíneo até o quarto grau (primeiro grau: pais e filhos; segundo grau: avós e irmãos; terceiro grau: tios e sobrinhos; quarto grau: primos). Na impossibilidade, o CRM precisa autorizar que alguém sem parentesco com os pais seja a barriga solidária. Outro pré-requisito é que a mulher tenha pelo menos um filho vivo. Jéssica já possui dois filhos.

Foi recentemente, em 2013, que o CFM passou a permitir a realização de tratamentos de reprodução assistida para pessoas do mesmo sexo no Brasil. Desde então, as normas vêm sendo atualizadas. "Avançamos muito nestes últimos anos, com a comunidade LGBTQIAPN+ afirmando direitos, sobretudo advindos de políticas públicas, mas ainda é nítida a falta de informação, dificuldade de acesso à tratamentos e até mesmo preconceitos", destaca a especialista.

Barriga solidária não é alternativa apenas para casais homoafetivos

A barriga solidária não é uma alternativa apenas para casas homoafetivos, mas sim para qualquer pessoa ou casal com alguma "condição que impeça ou contraindique a gestação", como explica a responsável pelo procedimento de Jarbas e Mikael, a médica ginecologista e obstetra Daiane Pagliarin, especialista em reprodução humana.

O perfil no Instagram @2paisdaantonella foi criado para compartilhar todo o processo. "As pessoas que, por algum motivo, não conseguiram realizar seu sonho da paternidade ou da maternidade, tem mais uma alternativa, que é a barriga solidária. É isso o que eu e meu esposo estamos fazendo, divulgando para a sociedade para que as pessoas conheçam o procedimento", enfatiza Jarbas.

Alguns momentos importantes já foram compartilhados, como quando receberam a notícia de que a primeira tentativa de fertilização havia dado certo.

Os pais já prepararam tudo para a chegada da filha. Agora, o desejo é poder conhecê-la logo. "É um sentimento de muita emoção e ansiedade. Tudo junto e misturado", destaca Jarbas.

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