ALIADO OU VILÃO?

Colégio de Morro Reuter proíbe que alunos usem celulares no ambiente escolar

Seguindo prática de outras cidades gaúchas e brasileiras, instituição de ensino recolhe aparelhos no começo das aulas para evitar falta de concentração na escola

Publicado em: 23/02/2024 18:00
Última atualização: 28/02/2024 08:23

Com conversa franca e aberta com os alunos, a Escola Municipal Edvino Bervian, em Morro Reuter, começou 2024 com os celulares dos alunos do 6º ao 9º ano do fundamental guardados no armário da direção. Segundo estudantes e professores, as aulas melhoraram com a novidade.

Conforme o diretor Márcio André Malgarin e a coordenadora pedagógica Inês Gazolla, desde 2022 os professores começaram a perceber que os alunos não se concentravam e usavam o celular em momentos não necessários.


Celular é devolvido somente no final da aula para os alunos do da Escola Municila Edvino Bervian, de Morro Reuter Foto: Débora Ertel/GES-Especial

“Em 2023 nós tivemos inúmeras confusões geradas pelo uso do aparelho”, conta Malgarin. “Ainda tivemos alunos com prejuízos na visão, pois alguns chegam às 6h30 e já ficavam em cima da tela”, complementa Inês.

Inspirados em outras escolas, a direção durante as férias elaborou quatro caixas, uma para cada ano. Decoradas com o dizer “Às vezes desconectar é preciso”, as caixas são os depósitos dos aparelhos, recolhidos antes de começar a aula, junto com uma lista de conferência, checada na hora da devolução.

“Melhorou a rotina e eles estão mais calmos em sala de aula”, garante o diretor 11 dias depois do início do ano letivo. Outra mudança é que a gurizada está brincando durante o recreio, em vez de ficar mexendo no celular. Inclusive, a escola precisou disponibilizar uma mesa, utilizada para os jogos de baralho no intervalo.

Rafaela Wilwert, 13 anos, é a representante do 8º ano, responsável por recolher os celulares da turma e devolver antes de bater o sinal, com o auxílio do vice-representante Claudir Pies, 13.

Já no 9º ano, a representante é Ana Cláudia Schafer, 14. Todos aprovaram a iniciativa. “Com o celular ficava todo mundo muito preocupado em pegar e ficar mexendo. Agora, a gente se desconecta da tecnologia um pouco para realmente se concentrar nos estudos”, comenta Rafaela.

Já Ana Cláudia garante que os recreios estão melhores. “Ficou legal, a gente joga carta, usa a quadra de esportes. Nem sente falta do celular”, declara.


São os próprios alunos que atuam como monitores que recolhem os aparelhos Foto: Débora Ertel/GES-Especial

Prefeituras gaúchas adotam medidas diferentes

Em Lajeado, no Vale do Taquari, desde 2001 existe uma lei proibindo o uso de celular em sala de aula, regra que foi atualizada em 2022. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, o uso do celular é negociado para fins de aprendizagem. Como o uso de aplicativos ou sites que podem ajudar o aluno.

A rede municipal tem 25 escolas de educação Infantil com 3.553 alunos matriculados e 18 de ensino fundamental, com 6.356 alunos.

Em Canoas, conforme a Secretaria Municipal de Educação, as escolas têm autonomia sobre o uso dos equipamentos junto ao seu grupo docente e em parceria com a comunidade escolar.

Em Sapiranga, a rede municipal não possui uma legislação específica e as escolas têm autonomia pedagógica para definir o uso.

Já em São Leopoldo, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) informa que não defende a proibição do celular em sala de aula, mas sim, uma utilização consciente, mediada pelo professor.

O que dizem governos do Estado e federal?

O Rio Grande do Sul tem a lei 12.884 de 2008 que proíbe o uso de “aparelhos de telefonia celular dentro das salas de aula”. Em nota, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) diz que em uma época anterior à pandemia e à nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prevê o uso de tecnologias na educação, os celulares não continham ferramentas educacionais.

“Portanto, não há uma proibição do uso, mas, sim, a restrição do uso de algumas funcionalidades da Internet a partir do acesso do aluno pelo aplicativo Escola RS”, informa a nota.

Conforme a Seduc, na rede estadual, ferramentas como Chromebooks e celulares para acesso das plataformas de leitura e do Google Classroom fazem parte da estrutura de apoio pedagógico.

“O uso destes equipamentos ocorre sempre com o acompanhamento e a orientação dos professores que indicam as atividades dos componentes curriculares que serão desenvolvidas ao longo do ano letivo”, garante a Seduc.

Já o governo federal divulgou a formação de um grupo de trabalho, que envolverá vários ministérios, para elaborar um guia de uso consciente de telas e dispositivos digitais por crianças e adolescentes. Os encontros devem iniciar em breve.

Serão reunidos especialistas de diversas áreas para elaborar um material de orientação aos pais e educadores sobre o uso de telas. O guia também vai levar em conta sugestões apresentadas durante consulta pública aberta em outubro de 2023.

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Matérias Relacionadas