CASO INÉDITO EM CANELA
SUPERDOTADO: Gaúcho de 10 anos conclui o ensino fundamental e integra lista dos superinteligentes do Brasil
Felipe Dorneles, morador de Canela, tem QI muito acima da média; conheça a história dele
Última atualização: 19/04/2024 14:59
Já imaginou uma criança que sabe reconhecer no mapa qualquer país do mundo, que faz cálculos avançados, que tem senso crítico e lógico? Pois esse é o Felipe Dorneles, morador de Canela que, aos 10 anos, após ser aprovado nos exames de certificação, concluiu o ensino fundamental. Com um quociente de inteligência (QI) elevado, o menino avançou as séries sem frequentar de conforma contínua as aulas.
Desde muito cedo, o menino demonstrava interesse pelas áreas de geografia e história, matéria esta que o pai é professor. “Ele sempre foi de fazer muitas pesquisas na Internet, de questionar o tempo todo”, comenta.
Com o tempo, percebeu-se a facilidade do garoto também com as matérias de exatas. “Ele chamou a atenção realmente em matemática e em lógica que acho que é um dom. Em história e geografia, ele ficou curioso e foi atrás dos conteúdos”, relata a mãe, atestando a facilidade do menino em aprender.
Dificuldades
Em outubro de 2021, a família decidiu custear um teste de QI para o Felipe de forma particular. Depois de cerca de seis etapas aplicadas, que são sigilosas, foi então constatado o QI de 135, ou seja, a identificação da superdotação.
No Brasil, a média de QI fica na casa dos 80. Felipe é membro de duas entidades para superdotados, a Intertel e a Mensa. Neste ano, a Mensa atingiu a marca de 3,5 mil brasileiros com superdotação e altas habilidades identificados. Ao todo, são 152 no Rio Grande do Sul. A associação aceita pessoas que possuam QI acima de 130, 2% da população.
Certificação
Com a identificação, os pais foram buscar apoio na Secretaria da Educação para que ele pudesse avançar de turma. Depois do primeiro avanço, surgiu a ideia que realizasse a prova de certificação do ensino fundamental, aplicada para que moradores da região que não conseguiram finalizar os estudos em idade regular, possam ter o certificado.
Felipe fez as provas na segunda quinzena de março e foi aprovado, gabaritando Ciências Humanas e Ensino Religioso. Em Ciências da Natureza e Matemática ele teve nota 90/100. Em Linguagem, 76/100.
Novas etapas para o menino
“É um desafio para a gente. Ele faz muitas perguntas. Ainda bem que tem a Internet”, brinca Daphne. Ela conta que é preciso conversar com o Felipe constantemente, pois ele tem uma cobrança grande em si. “Se ele não consegue fazer algo perfeito de primeira, fica estressado”, adianta, relevando que o garoto é bastante visual e não costuma copiar conteúdos.
Rotina
Como trabalha em home office, a mãe consegue auxiliar o filho em algumas demandas e também delega tarefas, para que ele não estude somente o que tem interesse, mas vá se desenvolvendo nas demais áreas, como a de Linguagem.
Contudo, Daphne salienta que a principal atividade do Felipe é brincar. O que ele mais gosta de fazer é correr. “Se os amigos do condomínio estão na rua brincando, ele vai estar lá com eles”, garante. Ele também faz aulas de jiu-jítsu, natação e música. Uma vez por semana, é atendido no Centro de Atenção e Desenvolvimento Integral ao Estudante (Cadie).
“O caso é um incentivo ao poder público”
Foi a partir da demanda dos familiares do Felipe para que pudesse avançar na escola que a Secretaria da Educação se mobilizou para regulamentar os processos de atendimento às demandas da superdotação. Por isso, foi criada a nota técnica 01/2024, que orienta escolas.
Além disso, houve uma mudança na lei para aplicação do exame de certificação de conclusão do ensino fundamental, aplicado em Canela, para que não haja idade mínima para inscrição, quando a criança tiver comprovação de alta habilidade ou superdotação. Nas provas deste ano, das 83 pessoas que compareceram, somente 33 foram aprovadas.
“O caso do Felipe é um incentivo positivo para o poder público. Foi desafiador, mas conseguimos atender e também abrir as portas para outras crianças”, comenta a secretária da Educação, Janete Santos.
Desenvolvimento
A coordenadora do Cadie, Deise Schnidger, explica que a maior parte das demandas é levada através das escolas. Atualmente, são cerca de 200 estudantes atendidos semanalmente no contraturno escolar, sendo que seis possuem a superdotação ou estão em processo de identificação.
O Cadie, que fica localizado no bairro Distrito Industrial, é voltado para a educação inclusiva, recebendo também crianças com deficiências ou transtornos. O acompanhamento é realizado por uma equipe técnica, como a psicóloga Janine Palodetti. “Nas atividades no Cadie, trabalhamos várias áreas de desenvolvimento, como a questão motora, afetiva, psíquica, de socialização”, atesta.
A estrutura possui um espaço que vai se moldando conforme as necessidades de atendimento, pensando em áreas que criem estímulos. Uma das salas de informática, por exemplo, vai ser transformada no núcleo de altas habilidades e superdotação.
Processo
Segundo a psicóloga, são inúmeros os fatores que podem gerar uma superdotação e que o estímulo é importante. “O desenvolvimento humano é dinâmico, complexo, e a gente precisa estudar constantemente esses fenômenos”, acrescenta.
No caso do Felipe, um dos pontos de atenção na complementação é nas atividades motoras. “Esse desenvolvimento corporal só vai contribuir para o desenvolvimento intelectual dele em todas as áreas que ele tiver interesse”, adianta. Já na suplementação, a ideia é buscar parcerias para que ele possa desenvolver projetos de pesquisas.
Janine aponta que acredita que o Felipe possui uma maturidade suficiente para conseguir ir para o ensino médio, recomendação diferente do que para outros estudantes na mesma condição.
Endossando a ideia da Daphne, a psicóloga pondera que crianças, mesmo com uma superinteligência, continuam sendo crianças. “Elas precisam brincar, conviver com pessoas da mesma idade. Precisamos tomar cuidado com o uso excessivo das telas, isso prejudica o desenvolvimento”, salienta.