“É maravilhoso observar o crescimento diário e a felicidade em fazer o que ele gosta.” A frase é da professora aposentada Zelmira Leonel Favero, 56 anos. O filho dela, Andrei Leonel Favero, 28 anos, é autista e há um ano e seis meses trabalha na controladoria de uma empresa do ramo logístico em Canoas.
“Sempre chega animado e com uma história diferente para contar”, explica a cabeleireira Cleuza Silva, 49 anos. Ela é mãe do jovem Nicolas Roberto da Silva Felisberto, 23 anos. Ele também trabalha há mais de um ano na mesma empresa de logística.
O que as duas mães têm em comum além dos filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e que trabalham na mesma firma? O amor, dedicação, protagonismo e liberdade que oferecem à dupla Andrei e Nicolas.
Sonhos em andamento
Atuar na controladoria não é a primeira experiência profissional de Andrei. Ele já havia trabalhado como empacotador em uma rede de supermercados e também em uma empresa no ramo da alimentação. No entanto, atualmente o ex-aluno do Colégio La Salle está onde sempre quis. “Gosto muito de trabalhar com o computador. Preciso manter tudo sob controle para que a empresa fique firme.”
A área da informática é realmente um sonho para o aprendiz. “Sempre esteve muito ligado ao computador e digitação”, conta Zelmira. Para o futuro, há a possibilidade de seguir estudando. “Ele dizia que não iria para a faculdade enquanto não soubesse o que mais gostava. Agora já descobriu.”
Quem também está realizando um sonho é o jovem Nicolas. O ex-aluno da Associação Pestalozzi é um entusiasta da mecânica. “Quero seguir me especializando nessa área.” A felicidade de hoje contrasta com os primeiros passos na escola. “Antes de ir para o Pestalozzi, estudou em um colégio regular e não se adaptou. Chamavam ele de louco.”
Com a oportunidade da Pestalozzi, Nicolas trabalha na área de montagem e fiscalização dos tratores transportados pela empresa. Os próximos objetivos estão definidos. “Atuar na parte da pintura e dirigir um trator.”
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Manter uma rotina é fundamental
A rotina é fundamental no dia a dia de Andrei e, segundo Zelmira, isso se torna um desafio diário. “O começo dele no trabalho foi preocupante para nós. Eu e o pai dele nos preocupamos bastante. Pais, sabe como é”, afirmou a mãe.
Para chegar na empresa, Andrei usa o transporte público. “Venho de trem todos os dias. Minha mãe me leva até a estação”, conta o morador do bairro Niterói. A caminhada até o serviço é longa e deixa Zelmira apreensiva. “Sempre quando ele chega me envia uma mensagem. Avisa que está bem e junto o horário.”
O problema do trem é apenas um conforme a mãe do aprendiz: “Quando está muito cheio. Ele fica muito agitado, nervoso. Não gosta de surpresas e já organiza tudo no dia anterior.”
Futuro na empresa
A oportunidade na linha de montagem não é a primeira experiência profissional de Nicolas. Ele já foi caixa de supermercado e trabalhou também na secretaria da Associação Pestalozzi. Morador do Guajuviras, o jovem vai até a empresa de carona com o pai e já pensa na efetivação. “Gosta muito de trabalhar e interagir com os colegas. Esperamos que seja efetivado”, avalia Cleuza, mãe do aprendiz.
Para isso, Nicolas continua se esforçando e é sempre pontual. “Ele trabalha a partir das 13h30 e está sempre pronto”, diz a mãe. Sobre a área na mecânica, o jovem afirma não ter preferência. “Importante é estar aqui. Aprendo muito todos os dias”, completa.
Inclusão na escola e no local de trabalho
A educadora social e vice-presidente da Associação Pestalozzi, de Canoas, Patrícia Faleiro, reitera a necessidade de mais profissionais como Andrei e Nicolas no mercado de trabalho. “Muitas vezes faltam conhecimentos, principalmente sobre a deficiência intelectual.”
Patrícia assegura que quanto mais estimulados, mais confiantes e independentes os jovens serão. “Na Pestalozzi estimulados os alunos desde a infância. Isso ocorre pelo fato das famílias não esconderem a deficiência de seus filhos.”
Além da questão familiar, a educadora esclarece que a preparação das empresas é fundamental. “Procuramos firmas em Canoas, Porto Alegre e Esteio, que já atuem com a inclusão.”
Esse é o caso da Atrhol, empresa onde trabalha a dupla Andrei e Nicolas. “Começamos em 2020, ano da pandemia. Por essa razão que os dois são os primeiros profissionais da inclusão a trabalhar conosco”, explica a responsável pelo RH, Bárbara Zucolotto.
Bárbara confirma que no início houve receio, mas que a adaptação e resultado estão sendo excelentes. “Conseguimos ver a evolução e eles estão evoluindo muito.” Para receber os aprendizes, houve uma preparação com os colaborados. “O Andrei e o Nicolas foram recebidos muito bem.”
A responsável pelo RH reitera que a empresa não abriu as vagas pensando nas cotas, já que as oportunidades foram abertas antes de uma cobrança. “Nos antecipamos. Fizemos isso para poder ter essa experiência e aprendizado. Também proporcionar essa possibilidade para a comunidade.”
Os aprendizes podem atuar por dois anos na empresa, após esse período eles permanecem em caso de efetivação. “Estamos gostando e vamos avaliar como será o restante do contrato.”
Desde 2010 em Canoas, a empresa é responsável pela montagem e logística de tratores.
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