PELO SUS

"Tragédia anunciada": Leia o manifesto da Liga Feminina sobre alta demanda oncológica no hospital de Taquara

Já o Estado, acena com ajuste financeiro do contrato para dar conta do aumento no número de pacientes

Publicado em: 17/11/2023 07:00
Última atualização: 17/11/2023 11:31

A Liga Feminina de Combate ao Câncer de Novo Hamburgo classificou como "tragédia anunciada" as dificuldades de custeio do tratamento oncológico em Taquara. A manifestação foi feita em uma carta aberta entregue por voluntárias da entidade na quinta-feira (16) na sede do Grupo Sinos. (Confira a íntegra do documento abaixo).

O manifesto foi feito após a reportagem “Hospital de Taquara faz alerta sobre dificuldades para custear a oncologia”, publicada pelos jornais do Grupo Sinos na quarta (15) e nos sites ainda na terça-feira (14). Na reportagem, os diretores do Hospital Bom Jesus (HBJ) de Taquara reclamam do grande volume de pacientes, acima do esperado. De acordo com eles, os recursos são insuficientes e colocam em risco o atendimento aos pacientes.


Desde que Taquara virou referência, Liga hamburguense iniciou série de mobilizações Foto: Arquivo/ges

Segundo os dirigentes do HBJ, os pacientes de Novo Hamburgo são os que mais demandam atendimento.
Voluntária da Liga, Miriam Behrend relembra que quando a transferência foi anunciada, havia garantia de manutenção da qualidade no atendimento. “Nos disseram que nosso paciente não seria prejudicado, só que sabíamos que não seria assim.”

Mariza Simon, que também é voluntária na Liga, demonstra preocupação com o futuro do tratamento oncológico mesmo com a construção do anexo 2 do Hospital Municipal de Novo Hamburgo. “Pode entregar o prédio, mas ele vai ter que ser adequado porque a previsão não era para a oncologia.”

Histórico

Em maio do ano passado, a Liga já havia lançado um manifesto contra a transferência da oncologia de Novo Hamburgo para Taquara. Outras ações cobrando a retomada do atendimento para mais próximo da cidade foram tomadas ao longo do último ano. Os pacientes oncológicos de Novo Hamburgo começaram a ser atendidos no HBJ em abril de 2022, quando o serviço deixou de ser prestado pelo Regina.

Por sua vez, o governo municipal espera concluir até o final de 2024 as obras do anexo 2 do Municipal, que será destinado ao atendimento oncológico. Nota oficial, enviada após a manifestação da Liga, dizia o seguinte: “A Secretaria Municipal de Saúde reafirma o que tem reiteradamente informado: que a previsão de conclusão das obras do anexo 2 do Hospital Municipal é final de 2024 e que o Anexo 2 possibilitará a retomada do atendimento oncológico em Novo Hamburgo.”

Leia a íntegra do manifesto da Liga

"A Liga Feminina de Combate ao Câncer de Novo Hamburgo vem a público manifestar-se a respeito da notícia veiculada neste jornal no dia 15 deste mês, em primeira página: “Hospital de Taquara faz alerta sobre dificuldades para custear a oncologia”.

Essa não era a questão do hospital de nossa cidade, que pleiteava recursos para poder atender a toda demanda? Demanda essa utilizada como motivo para retirar a oncologia de NH, onde os pacientes recebiam atendimento de excelência e levar para Taquara, onde ficou constatado que não possuía nem estrutura física, nem de atendimento clínico compatível ao que aqui recebiam.

Todos que tivessem o mínimo de conhecimento das estruturas de saúde para atendimento oncológico SUS em Novo Hamburgo e em Taquara sabiam que o que foi feito era uma “tragédia anunciada”. Só não imaginávamos que fosse tão rápido, um pouco mais de um ano.

Em 2022, a Associação Hospitalar Vila Nova, a Secretaria do Estado e a Prefeitura de Novo Hamburgo, assim como de outros municípios que aqui eram atendidos, não consideravam problema algum atender os pacientes em Taquara, nem o fato da estrutura ser muito aquém da que eles tinham, nem eles irem de van, saindo de madrugada e retornando quando fosse possível, não terem onde ficar durante a espera, não terem possibilidade de realizar os exames necessários lá, e todas as questões já destacadas em outras manifestações nossas.

Será que a forma que foi conduzido o desmonte da oncologia em NH tem mais a ver com questões políticas e, sendo assim, um descuido com saúde?

Agora o Hospital de Taquara vem a público queixar-se que a demanda foi maior do que o esperado. Já era senhores, era aqui em NH e todos sabíamos. Isso foi que fez com que a Liga iniciasse inúmeras manifestações e busca de conscientização dos líderes de nosso Estado e município.

Não buscaram solução para Novo Hamburgo, irão buscar para Taquara? Por que Taquara sim e não Novo Hamburgo na época?

Estivemos várias vezes com a prefeita de nossa cidade e seu fiel secretário da Saúde, com a secretária da Saúde do Estado que considerou estarmos “romanceando” a situação, com o governador na época, encaminhamos carta ao atual governador, por diversas vezes na nossa Câmara de Vereadores, conversas com senadores, deputados federais e estaduais, fomos a Brasília no Ministério da Saúde.

O que foi feito? Muito pouco. Do Estado e município respostas evasivas com segurança que nada afetaria os pacientes. Eles sabiam que afetava e se omitiam, tentando passar imagem de que a retirada da oncologia de NH contentava a todos.

Se hoje a instituição que administra em Taquara considera estar em risco, o risco dos pacientes não foi e nem vem sendo considerado. Mas o financeiro sim?

Essa tem sido nossa luta, a luta da Liga, e mesmo sendo desconsiderada a qualidade do atendimento de saúde de nossos pacientes, pelo nosso município, assim como do Estado e de municípios vizinhos, nós seguimos, nós sabemos o que sofrem nossos pacientes, o que eles nos relatam, sabemos o que é o câncer e as dificuldades que se tem que enfrentar.

A forma que a oncologia SUS em Novo Hamburgo foi tratada pelos órgãos já citados nos toca profundamente e nos leva a desacreditar naqueles que ocupam cargos públicos em “nome do povo”, de “cuidar do povo”. Salvo muito poucos e sabemos quem segue nos acompanhando nessa luta.
“Poucos”, e quem acompanha este respeitado jornal de nossa cidade, poderá acompanhar quem olha por ela e pela oncologia."

O que diz a Secretaria de Saúde do Estado

O HBJ de Taquara segue sendo referência em oncologia e atendendo a população de Novo Hamburgo e região.

Em 2021, o Ministério Público Federal (MPF) propôs a ação civil pública devido atrasos superiores aos 60 dias, dos pacientes referenciados ao Hospital Regina, para iniciarem seus tratamentos oncológicos.
Essa ação foi deflagrada com consequência do inquérito civil público que visava garantir aos pacientes com neoplasia maligna o direito por lei previsto (lei 12.732/12) de iniciarem o tratamento em até 60 dias após seu diagnóstico;

As tratativas para absorção dos pacientes de Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha e Ivoti e Novo Hamburgo fossem referenciados ao Hospital Bom Jesus de Taquara iniciaram quando a Secretaria Estadual da Saúde e a Secretaria Municipal de Novo Hamburgo foram notificadas pelo Hospital Regina que encerraria suas atividades pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 26/05/2022. Desta forma, se procedeu o estudo de incidência, revisão da lista de espera para primeira consulta, revisão do contrato e custeio do hospital. A resolução pactuou a nova referência e o impacto financeiro a ser repassado ao prestador mediante contratualização com gestor estadual.

Salientamos que o estudo incluiu todas as unidades da Região Metropolitana, inclusive as unidades de Porto Alegre que acenaram com a capacidade instalada esgotada para receberem os pacientes referenciados a Novo Hamburgo.

Com intuito de se realizar o remanejo de forma segura, organizada e visando manter assistência para todos os pacientes que estavam em tratamento quimioterápico, em acompanhamento médico regular e aguardando procedimentos cirúrgicos, foram elencados todos os pacientes, a partir de informações do próprio Hospital Regina, sendo que estes dados foram estratificados por patologia, tipo e caráter do tratamento e apresentados em reuniões realizadas com as equipes supracitadas;

O acolhimento da população referenciada contemplou toda linha de cuidado. Além disso, mutirões foram realizados para atendimento da fila de pacientes que aguardavam, não havendo atualmente filas de espera.

Analisando-se a produção de 2022 de procedimentos diagnósticos e terapêuticos relacionados à Oncologia do Hospital Bom Jesus identifica-se acréscimo expressivo destes; além disto, não se evidencia fila de espera para primeiras consultas oncológicas;

Desta forma entendemos que o HBJ encontra-se prestando assistência oncológica de forma tempestiva e resolutiva à sua referência... Neste momento tramita termo aditivo ao contrato da SES com o HBJ, considerando que houve aumento no número de novos casos de câncer em torno de 15% segundo dados do INCA/MS1, além do aumento de atendimentos relativos à demanda que ficou reprimida no período pós pandêmico. Portanto, Estado, município de Novo Hamburgo e HBJ seguem trabalhando em conjunto para manutenção do atendimento da população referenciada em oncologia no hospital de Taquara e para ajuste financeiro do contrato afim de dar conta do aumento de pacientes.

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