APÓS DENÚNCIA

Mais de cem trabalhadores são resgatados em situação análoga à escravidão na Serra gaúcha

Ao MTE, vítimas relatam que sofriam agressões com "cadeiradas" e spray de pimenta e trabalhavam 16 horas por dia

Publicado em: 23/02/2023 11:59
Última atualização: 16/01/2024 16:18

Cerca de 150 homens que estavam em situação análoga à escravidão foram resgatados em Bento Gonçalves, na Serra gaúcha, na noite de quarta-feira (22). A operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), com apoio do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Polícia Federal (PF) aconteceu após três trabalhadores denunciarem à situação. Um homem de 45 anos, proprietário da empresa que contratou o grupo, foi preso. O nome da empresa não foi divulgado pelas autoridades, mas segundo a PRF, possui contratos com diversas vinícolas da região. O preso é natural de Valente, na Bahia.


Mais de cem trabalhadores são resgatados em situação análogo à escravidão na Serra gaúcha Foto: PRF

O trio fugiu do prédio em que era mantido contra a vontade, na noite de terça-feira (21). Na quarta-feira, eles foram até a Unidade Operacional da PRF em Caxias do Sul e fizeram a denúncia. Eles disseram que eram coagidos a permanecer no local sob pena de pagamento de uma multa por quebra do contrato. Ao tomar conhecimento da situação degradante em que eles estavam, os policiais chamaram a PF e o MTE e foram até o endereço indicado pelas vítimas.

Segundo o MTE, a maioria das vítimas foram trazidas da Bahia no final de janeiro deste ano para trabalhar na safra da uva, para produtores rurais e para vinícolas, no Rio Grande do Sul. O gerente regional do Trabalho e Emprego em Caxias do Sul, Vanius João de Araújo Corte, explica que "a pessoa que trazia eles, distribuía eles por diversos produtores, que precisavam dessa mão de obra". Um levantamento é feito para saber exatamente quantos estavam no local.

Corte diz que os trabalhadores receberam a promessa de um trabalho com remuneração de R$ 3 mil, com alimentação e alojamento inclusos, e de jornada com horários razoáveis. Porém, a situação já se mostrou diferente ainda no caminho do RS. "Eles já chegaram aqui com dívida. O ônibus que eles vieram ia parando nos locais e a alimentação era por conta deles. Como eles não tinham dinheiro, já estava anotada".

Mesmo depois de semanas, eles não receberam a remuneração prometida. Sem dinheiro e sem receber alimentação, eram obrigados a comprar comida em uma "mercadinho", que de acordo com o gerente regional do Trabalho e Emprego, era vinculado a empresa e praticava preços extorsivos. "A gente identificou lá um saco de feijão por R$ 22, por exemplo."

Para o MTE, os trabalhadores relataram ainda que eram submetidos a jornadas exaustivas, que começavam às quatro horas da madrugada e só terminavam às oito da noite. Ou seja, 16 horas por dia. O grupo não tinha registro e não recebia nenhum direito trabalhista.

Além disso, contaram aos agentes do MTE que sofriam agressões, inclusive, com "cadeiradas". "A fiscalização encontrou e apreendeu um aparelho de choque elétrico e spray de gás de pimenta", afirma Corte.

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