RIO GRANDE DO SUL

Prefeitos da região criticam critério de ministério para distribuição de vacinas da dengue

As seis cidades contempladas com o imunizante não aparecem no topo dos municípios com mais casos da doença

Publicado em: 29/04/2024 21:41
Última atualização: 30/04/2024 08:52

Apesar de ser a região com maior número de casos de dengue, o Vale do Sinos não foi contemplado com o lote de 126,1 mil doses de vacina que o Rio Grande do Sul deve receber nos próximos dias. A informação foi divulgada pelo Ministério da Saúde (MS) na tarde de quinta-feira (25), e prefeitos da região questionam os critérios adotados para o envio do imunizante.


Vacina dengue qdenga Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

As seis cidades contempladas com a vacina contra a dengue não aparecem no topo dos municípios com mais casos da doença. Com isso, uma reunião do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), realizada nesta segunda-feira (29) com o Ministério da Saúde, buscou esclarecer os critérios. De acordo com o ministério, a definição dos municípios levou em conta o histórico de casos de dengue entre 2013 a 2022.

Conforme a Nota Técnica 47/2024 enviada aos Estados, os seguintes municípios serão contemplados: Porto Alegre (72.898 doses), Viamão (14.982 doses), Alvorada (12.985 doses), Gravataí (16.425 doses), Cachoeirinha (8.379 doses) e Glorinha (463 doses).

Após o anúncio, o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, enviou um ofício ao ministério solicitando uma política permanente de vacinação contra a dengue. A cidade aparece na segunda posição entre os municípios com mais casos, somando 9.330 confirmações e 15 óbitos.

Conforme o prefeito, o anúncio provocou surpresa. “Achei estranho esse anúncio da vacinação sem incluir a nossa população, diante dos números graves que temos. Já estamos encaminhando um pedido ao ministério para incluir São Leopoldo na próxima etapa”, destacou.

Novo Hamburgo também se manifestou sobre não ter sido contemplada pelo envio, já que a cidade soma 7.849 confirmações da doença e 11 óbitos em 2024. Conforme a prefeita Fatima Daudt, “a escolha não nos permite identificar critérios claros por parte do Ministério da Saúde. Os critérios são completamente questionáveis, pois sequer consideraram cidades com mais casos e óbitos”, afirma.

“Faz mais sentido disponibilizar a vacina onde ela é mais necessária, ou seja, onde há registro de mais casos e óbitos e, portanto, onde poderá salvar mais vidas. O Ministério da Saúde precisa urgentemente reavaliar seus critérios”, diz Fatima.

Canoas também está entre as cidades que enviaram ofício ao Ministério da Saúde solicitando mudanças no critério de distribuição. Com 2.157 casos de dengue e sete óbitos até a tarde desta segunda-feira (29), o prefeito Jairo Jorge disse na sexta-feira (26) que exigia uma resposta do Ministério da Saúde.

“Queremos uma explicação sobre os critérios escolhidos. Como Canoas, que está em situação muito mais grave que a da região contemplada com as vacinas, não recebe as doses? A prioridade para definição dos municípios que recebem as vacinas deve ser o número de casos confirmados e os óbitos”, enfatizou Jairo Jorge.

O que diz o Ministério da Saúde

Técnicos do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) participaram nesta segunda de uma reunião com representantes do Programa Nacional de Imunizações (PNI) para planejamento da ação de vacinação contra dengue nos municípios contemplados no Rio Grande do Sul.

Na reunião, os representantes do Ministério da Saúde explicaram que o critério para a definição dos municípios levou em conta o histórico de casos de dengue entre 2013 a 2022, visto que a estratégia foi definida antes do final do ano passado. As 126,1 mil doses representam a população estimada, nos seis municípios, que pertencem à faixa etária definida.

De acordo com nota do Ministério da Saúde, “considerando as dimensões continentais do Brasil, a heterogeneidade de transmissão em cada região, e o limitado quantitativo de doses da vacina disponíveis para 2024, foram selecionados municípios de grande porte (população maior ou igual a 100 mil habitantes) com alta transmissão de dengue nos últimos dez anos, incluindo os demais municípios das suas regiões de saúde de abrangência, independentemente do porte populacional”.

Com base nesses critérios, a cidade de Glorinha acabou sendo incluída. Mesmo com população abaixo de 100 mil habitantes, ela foi selecionada por fazer parte da mesma região de saúde de outros municípios com população superior e com maior incidência da dengue no período.

Primeiras doses devem chegar nesta terça ao Estado

A previsão de chegada das primeiras doses da vacina (cujo nome comercial é Qdenga, da fabricante japonesa Takeda Pharma) está prevista para hoje ao Estado. Elas serão disponibilizadas, em seguida, para a retirada dos municípios contemplados na Central Estadual de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos (Ceadi).

Todo o quantitativo será destinado para aplicação da primeira dose no público prioritário. O quantitativo que será enviado para a segunda dose do esquema vacinal, aplicada após três meses, dependerá do número de primeiras doses registrado no sistema do PNI.

Pela definição do Ministério da Saúde, serão vacinadas as crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, faixa etária que concentra maior número de hospitalização por dengue nacionalmente nos últimos anos: 16,4 mil de janeiro de 2019 a novembro de 2023.

A vacina do fabricante japonês não é autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para pessoas acima dos 60 anos, público que no RS concentra o maior número de óbitos.

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