Foi no sábado que Isabela Sousa notou o gosto ruim da água que saía da torneira, no apartamento em que vive, no bairro Fátima, em Canoas. Como o quadro não mudou, nem pensou duas vezes e correu até o “mercado da esquina” para comprar garrafas de água mineral.
“Foi meu filho quem reclamou primeiro”, conta. “Ele não tem o costume de pegar água gelada, então toma direto da torneira. Fui experimentar e percebi que estava horrível. Corri no mercado e peguei uma bombona”.
Ela não foi a única. Outros moradores também notaram alteração no gosto, além do odor não característico em diversos bairros. Isso levou a uma procura significativa por água mineral em mercados e estabelecimentos que trabalham com a entrega de galões.
Com um serviço de tele-entrega de água que funciona há anos em um estabelecimento na Avenida das Canoas, Régis Furtado costuma comprar em média 170 galões de água para distribuição à clientela. Ele só não imaginava que iria perder dinheiro em pleno mês de maio.
“Quando esfria, as pessoas tomam menos água. Isso é algo natural”, observa. “Só que eu nunca poderia imaginar que a água iria ficar tão ruim e todo mundo iria fazer pedidos ao mesmo tempo. Eu não dava conta de atender e chegou a faltar durante o final de semana”, diz o trabalhador de 45 anos.
Atendendo em um mini-mercado no bairro Rio Branco, Graziele Almeida relata que também no estabelecimento onde trabalha houve uma enorme procura por água durante os últimos dias.
“As garrafas que a gente tinha sumiram das prateleiras entre domingo e segunda”, aponta. “Até as pequeninhas levaram de uma hora para outra”.
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Prefeitura de Canoas monitora situação
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente monitora a situação desde o final de semana. O problema observado seriam aguapés acumulados, influenciando no gosto da água, devido à proximidade com os pontos de captação. Na Prainha do Paquetá, por exemplo, é possível observar a densa vegetação em vários pontos da margem.
“Notamos o problema e estamos monitorando a situação desde então”, avisa. “Fomos até o Paquetá e observamos a movimentação que aconteceu. A margem está cheia de algas e não há muito o que possa ser feito por enquanto”.
O aguapé é uma planta aquática flutuante com folhas grandes e redondas que pode chegar a um metro de cumprimento. Embora bonito de se ver, acaba se tornando um problema para reservatórios, rios ou açudes, diz o secretário.
“Acreditamos que a solução a longo prazo está em mudanças no saneamento e no tratamento do esgoto, porque esta movimentação de algas se deve a matéria orgânica que acaba sendo jogada nas bacias hidrográficas que banham Canoas indevidamente”.
Água não faz mal à saúde, alerta Corsan
“Em relação ao abastecimento de água de Canoas, Cachoeirinha e Gravataí, a Corsan informa que, devido ao acúmulo de sedimentos nas margens e nos leitos dos mananciais afluentes, ocasionado pela estiagem, na ocorrência das chuvas há o carregamento e revolvimento deste material, acarretando maior presença de substâncias que podem causar odor e gosto na água captada. Nesse sentido, a Companhia realiza adequações no tratamento visando à maior remoção possível das referidas substâncias. Porém, ressaltamos que essas substâncias são reduzidas a baixas concentrações e não fazem mal à saúde. A água distribuída pela Corsan é tratada e monitorada atendendo ao Padrão de Potabilidade estabelecido pelo Ministério da Saúde (Anexo XX da Portaria de Consolidação N°05/2017, alterado pela Portaria GM/MS n° 888/2021 e Portaria GM/MS n° 2472/2021). Assim, reitera-se que a água distribuída à população é própria para o consumo humano”.
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