NOVO HAMBURGO

CATÁSTROFE NO RS: Vovós do Lar São Vicente fazem roupinhas para bebês desabrigados pelas enchentes; veja vídeo

Ação solidária é uma forma de ajudar em meio a maior catástrofe vivida no Rio Grande do Sul

Publicado em: 16/05/2024 20:23
Última atualização: 17/05/2024 18:02

“A gente já foi tão ajudada, que agora a gente quer fazer pelos outros também”, com essa frase, Silvia Gerhardt, de 82 anos, explica como tem dedicado seu tempo nos últimos dias a confeccionar roupinhas de lãs, que serão destinadas a bebês que estão em abrigos e perderam o que tinham durante a enchente. Aliás, não só ela, mas diversas idosas residentes no Lar São Vicente de Paula, do bairro Primavera, em Novo Hamburgo.


Roupas serão doadas para crianças em abrigos Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

A ideia surgiu com a voluntária do lar, Bianca Mello, que viu na chegada do frio a necessidade de aquecer aqueles que mais necessitam neste momento. “Eu me sentia culpada por tanta gente estar passando dificuldades e eu não estar ajudando o suficiente. Então tive essa ideia no sábado (11), no dia seguinte já procurei a Kamile (coordenadora do Lar), que passou a ideia para as vós, e imediatamente elas toparam”, explica Bianca.

A partir de doações, Bianca conseguiu o material e já na segunda-feira (13) entregou às residentes, que viram na ação uma forma de poderem ajudar. “No início da enchente, eu não deixava elas verem as notícias porque isso causa muito abalo à elas. Mas conforme foi passando, elas ficaram sabendo e quando viram a dimensão desta tragédia, elas ficaram neste sentimento de precisar fazer alguma coisa”, conta Kamile Sauthier, a coordenadora.

Bernadete com sapatinhos de tricotDário Gonçalves/GES-Especial
Equipe toda reunidaDário Gonçalves/GES-Especial
União para ajudar bebês vítimas da enchenteDário Gonçalves/GES-Especial
Silvia, Lília e Wilma durante a confecçãoDário Gonçalves/GES-Especial
União para ajudar bebês vítimas da enchenteDário Gonçalves/GES-Especial

“Tricotando afeto”

O Lar São Vicente de Paula vive de doações, inclusive, neste momento de frio, de toucas, casacos e cobertores. E agora, pela primeira vez, elas conseguiram dar algo em troca. “Apesar da urgência que muitas pessoas estão passando, nós deixamos bem claro para elas que elas podem fazer no tempo delas, não é para causar uma preocupação. Além da qualidade, essas roupas têm um sentimento, elas estão tricotando afeto”, detalha Bianca, que revela que as roupas serão destinadas diretamente a famílias em lares que possuem mães solo.

Aos 76 anos, Carmelita Lauffer não vive no Lar, mas foi a primeira a se voluntariar e se juntou às idosas para a confecção. Maria Lori Dietrich, de 79 anos, também se emociona ao comentar o projeto. “Elas nos trouxeram as lãs e na mesma hora eu peguei as agulhas. Estou muito feliz porque sempre gostei de ajudar os outros. E quando vejo uma catástrofe dessas, dói no coração. Fiquei muito sentida”.

Bernadete Nunes tem 78 anos e vive no lar há 10 e também viu nesta ação uma chance de retribuir todo o carinho que já recebeu da comunidade dentro do lar. “Eu gosto de ajudar as crianças e os adultos”, revela. Da mesma forma, Lourdes Tavares, 78, que há muitos anos não tricotava mais por conta de um problema em sua mão esquerda, mas que fez questão de fazer parte. “A água também entrou na casa da minha filha, ela tem duas filhas, uma de 5 meses e outra de 13 anos, e elas perderam muita coisa. Então a gente conhece essa dor”, explica.

Silvia mostra os sapatinhos de tricot que ela mesma fezDário Gonçalves/GES-Especial
Maria Juzzara se voluntariou para ajudar as idosas do larDário Gonçalves/GES-Especial
Sapatinhos confeccionados pelas residentes do Lar São Vicente de PaulaDário Gonçalves/GES-Especial
Roupinhas de lã para ajudar os bebês desabrigadosDário Gonçalves/GES-Especial
Kamile, Maria Juzzara, Maria Lori, Lília, Lourdes, Wilma, Silvia, Oneides, Bianca e BernadeteDário Gonçalves/GES-Especial

Bisavó de oito bisnetos, Lília Klein, de 88 anos, sempre fez roupinhas para os membros de sua família, e agora chegou a vez de expandir o trabalho de forma solidária. “Eu não consigo ficar aqui só olhando televisão ou escutando música. Então eu prefiro fazer esse tricot, sempre passei o inverno todo fazendo sapatinhos dos pequenos até o nº 40 porque os netos pediam”, conta.

Para Wilma Stumpf, de 77 anos, tricotar sapatinhos tem sido uma novidade, já que nunca havia feito isso na vida. Contudo, através de suas revistas, aprendeu sozinha e também entrou na onda de solidariedade. “Vou continuar fazendo muito ainda, porque a gente recebe e tem que dar também”, promete.

Aos 90 anos, Oneides Pasin é a mais experiente do grupo. Por conta da idade, sua visão não é mais a mesma, e por isso já não pode tricotar. Mesmo assim, fica junto das colegas na hora da confecção.

Primeira entrega

Na noite de quinta-feira (15), as gêmeas Isadora e Isabela Borges completaram seu primeiro aniversário. A família, que perdeu tudo na enchente, está abrigada na Fenac e ganhou uma festinha de aniversário feita por voluntários. E entre os presentes, roupinhas feitas pelas idosas do Lar São Vicente de Paula, mais especificamente, tricotada por Maria Juzzara Giacomuzzi Bardagi, de 88 anos.

Ao saberem da história das meninas, as vovós fizeram questão de presentear as meninas com as roupinhas feitas de lã, que foram entregues pela reportagem.

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