RUAS DE NOVO HAMBURGO

Conheça a trajetória da professora que virou a rua da escola onde deu aula

Boa parte das mais de 800 ruas de Novo Hamburgo homenageiam pessoas que foram importantes para a comunidade. No aniversário da cidade, conheça a história de uma destas pessoas

Publicado em: 05/04/2024 07:00
Última atualização: 05/04/2024 07:48

Adriana é o tipo de pessoa compenetrada. Mas Cláudia tinha o dom de arrancar sorrisos genuínos dela. Sorrisos, não. Gargalhadas! Do Piauí, Cláudia trouxe o senso humor característico do povo do Nordeste.


Rua na frente da Escola Francisco Xavier Kunst recebeu o nome de Cláudia Josimary de Oliveira, que morreu de Covid. Amiga de Cláudia, Adriana ainda leciona na escola Foto: Ermilo Drews/GES-Especial

O desembarque em Novo Hamburgo não foi em busca de oportunidades, como aconteceu com os imigrantes alemães no começo desta história. A professora veio seguindo os passos do amor. Aqui casou, teve três filhos e arrancou gargalhadas por onde passou, especialmente na Escola Francisco Xavier Kunst, na Vila Marisol, em Canudos. Foi ali que Adriana Cornaleski e Cláudia Josimary de Oliveira viraram colegas, amigas e confidentes.

O senso de humor de Cláudia ficou na lembrança e a gargalhada de Adriana em áudios enviados para a amiga. A Covid-19 silenciou a piauiense que encarava a vida com leveza e fazia graça mesmo das situações mais difíceis. Morreu em março de 2021, pouco tempo antes do retorno das aulas presenciais. Deixou três filhos. O mais novo de 3 anos.


Cláudia tinha três filhos Foto: Arquivo Pessoal

A morte de uma pessoa saudável, de pouco mais de 40 anos, que preenchia a escola com alegria peculiar, doeu em toda comunidade escolar. Por um bom tempo, Adriana ouvia os áudios enviados pela amiga, naquelas tentativas humanas de ter a pessoa de novo por perto.

Áudios e chamadas de vídeo aproximaram ainda mais as amigas no primeiro ano da pandemia. “Saí da escola e quis voltar. Em 2019, criamos um grupo de Whats com outra colega, onde conversávamos. Eu ia voltar em 2020, mas começou a pandemia e tudo foi suspenso. O grupo virou uma forma de aproximação ainda mais no isolamento”, lembra Adriana.

As amigas dividiam a rotina e os planos. Ambas gestavam o sonho da nova casa. Adriana queria largar o apartamento. Cláudia desejava um novo lar no segundo casamento. Adriana conseguiu. “A gente virou especialista em comprar casa nesta época. Lembro que mandei um áudio quando entrei na minha casa nova. Ela perguntou brincando se agora tinha lugar para estender roupa.” Dias depois, Cláudia morria.

Num domingo, os sintomas. No outro, o silêncio e a incredulidade. “Morreu uma de nós. Foi muito rápido, num domingo ela mandou áudio que não se sentia bem. No outro, ela morreu”, lembra Adriana. Mas a gravidade da vida nunca tirou o bom humor de Cláudia. Áudios de arrancar gargalhadas seguiram no isolamento em casa e até na internação, dias depois. “Ela fazia graça mesmo nas situações mais sérias.”


Marido e filhos de Cláudia no dia do plantio da árvore em sua homenagem Foto: Arquivo Pessoal

Para sempre no cotidiano da escola e da cidade

A leveza com que Cláudia levou sua jornada ainda vive na memória da Escola Francisco Xavier Kunst e nas lembranças de amigas como Adriana e familiares. Foram 11 anos lecionando para crianças de 7, 8 anos. A saudade criou raiz. A professora que plantou sementes virou árvore no pomar da escola, onde uma goiabeira é cultivada em sua homenagem.

Mas quem arranca sorrisos genuínos e educa crianças, merece todas as reverências. Localizada na Vila Marisol, onde ruas não têm nome, a da frente da escola agora tem: se chama Rua Cláudia Josimary de Oliveira. Ficou a lembrança, a saudade enraizada e a rua da professora que sorriu pra vida mesmo diante da morte.

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