Novo Hamburgo está na lista do ranking dos 100 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes que apresentou maior índice de HIV. Os dados de 2018 a 2022 levam em consideração as taxas de detecção na população, mortalidade e registros em menores de cinco anos de idade, conforme Boletim Epidemiológico do HIV e da aids, lançado no início deste mês.
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No ranking nacional, dos municípios do Estado com mais de 100 mil habitantes para esse mesmo período, o município está no 33º lugar. No Rio Grande do Sul, Porto Alegre tem o maior índice e é a capital com o maior índice. Na lista ainda constam Canoas (2º), Gravataí (7º), Bagé (44º), Pelotas (64º) e Passo Fundo (81º).
Conforme dados apresentados no boletim referentes aos dois últimos anos do levantamento, 83 pessoas morreram por conta da doença em Novo Hamburgo: 36 em 2022 e 47 em 2021. O Município registrou 68 casos de aids notificados em 2022, contra 72 em 2012.
Homens e pessoas brancas lideram os casos. Em 2022 foram 42 homens e 26 mulheres e em 2021 foram 40 homens e 32 mulheres. O boletim apresenta ainda que 78% dos casos de aids em 2022 foram em pessoas brancas, 18% em pardas e 4% em pretas. No ano de 2021, 59,6% dos casos foram em brancos, 19,2% pardos e 7,7% pretos.
Fatores
Conforme a coordenadora do Serviço de Atendimento Especializado (SAE), Ivone Marlow do Nascimento, o aumento dos índices de diagnóstico se dá por ações de prevenção e conscientização ao diagnóstico precoce associado à oferta de testes rápidos e autoteste em todo Município. “Se testar e diagnosticar tem possibilidade de tratamento e rompimento da corrente de contaminação”, sublinha Ivone.
Outros fatores, apontados pela coordenadora, são a quantidade de clínicas e comunidades de reabilitação para dependentes químicos e a existência do presídio. A alta rotatividade de detentos, pontua, contribui para aumento das estatísticas.
“O SAE faz ações extramuros nas clínicas de reabilitação e também no presídio, sendo uma população chave. A gente sabe que usuários de droga e detentos são uma população chave para a questão do diagnóstico. Por isso, quando citamos esses dois locais é onde se encontram populações chave e onde o SAE testa, com uma probabilidade maior de testes positivos”, explica.
Espaço para qualificar políticas públicas
Segundo Ivone, ações são realizadas com foco na prevenção da doença. Ela cita a obra da nova sede do SAE, com mais de 60% de conclusão, no cruzamento das ruas Magalhães Calvet e a Joaquim Nabuco, no Centro, e o fortalecimento com políticas públicas na rede pública de saúde, tanto quanto ao diagnóstico, como no tratamento.
“Através do SAE, há o fortalecimento de uma equipe multidisciplinar para o atendimento e acompanhamento dos pacientes, sempre com o foco na prevenção, estendendo as ações cada vez mais aos mais diversos públicos”, acrescenta a gestora.
A Secretaria Municipal de Saúde oferta os testes rápidos e autoteste em toda rede de saúde do município, também nas maternidades pública e privada. Além dos mais, a pasta distribui gratuitamente os preservativos. Ações de testagem são realizadas em escolas e empresas, palestras em diversos espaços e oferta de material informativo.
O que fazer
A pessoa com a doença deve sempre manter o vínculo com uma unidade de saúde ou com o SAE. O paciente deverá sempre realizar as coletas específicas ao HIV, pelo menos duas vezes ao ano ou por orientação médica e manter uso diário de antirretrovirais conforme a orientação médica.
No SAE, a testagem feita é de HIV, sífilis, hepatites B e C. “São quatro testes e o resultado sai em 15 minutos”, explica a enfermeira Cristina Cruz. Em caso positivo, é iniciado o acompanhamento médico.
Virologista alerta homens e jovens para redobrar atenção com prevenção
Homens e jovens precisam ficar atentos às medidas preventivas contra a aids. O alerta vem do virologista e pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da Universidade Feevale, Fernando Spilki, que aborda dois fatores diante do aumento dos índices de HIV.
Um deles é a questão das linhagens circulantes do vírus HIV, causador da aids, que vem se modificando na região, o que pode estar relacionado ao agravamento dos casos, e o outro, mais preocupante, é quanto às atitudes de prevenção do hospedeiro do vírus.
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Segundo ele, as cadeias de transmissão se dão com o tráfego de pessoas entre as cidades. “Estamos na Região Metropolitana que, ao longo da história, sempre teve alta dispersão do HIV e observamos a continuidade desse processo.”
Após o período da pandemia, onde houve menos relações sexuais desprotegidas, um novo conjunto de transmissões começa se abrir. E é diante desse aspecto que a presença da doença em pacientes jovens, especialmente no sexo masculino, vem chamando atenção.
Há um descuido com a prevenção e, por isso, o alerta é manter o esforço para realização de testagem, fazer o uso de preservativo, procurar os serviços de saúde para evitar que o vírus se instale e, se desconfiarem de um contato de risco, não deixar de buscar tratamento.