TRAGÉDIA NO RS

Vítimas invisíveis da enchente: diversos moradores da região agora vivem na casa de parentes e amigos

Conheça a história daqueles que perderem tudo, mas não estão em abrigos

Publicado em: 08/05/2024 19:08
Última atualização: 08/05/2024 19:11

As casas e o que construíram com muito esforço, está submerso nas escuras águas das enchentes. Para eles, a água é uma constante: seja no solo, caindo do céu ou nos olhos marejados pela dor da impotência.


Quinze pessoas que dividem o mesmo espaço em Novo Hamburgo recebem marmitas de doação com mensagens de carinho Foto: Giordanna Vallejos/GES-Especial

Os desalojados, são vítimas invisíveis das enchentes do Rio Grande do Sul. Essa invisibilidade acontece, pois, ao perderem suas residências, eles encontraram abrigo em casas de parentes, amigos e conhecidos. Dessa forma, eles não fazem parte das estatísticas e dos atendimentos de alimentos e roupas disponibilizados em muitos abrigos.

Quinze pessoas dividem o mesmo espaço em Novo Hamburgo


Quinze pessoas dividem o mesmo espaço em Novo Hamburgo Foto: Giordanna Vallejos/GES-Especial

Em Novo Hamburgo, no bairro Canudos, Neudir de Lima e sua filha, Nathália Karoline de Lima Correia, dividem a casa com mais 15 pessoas abrigadas por eles, que são familiares e conhecidos. Com um espaço de dois andares, cada cômodo e móvel é aproveitado.

Neudir deu a sua própria cama e foi dormir no sofá do vizinho, para dar espaço a quem mais precisa. “Quando soubemos de alguns parentes que moram na Santo Afonso perderam tudo, e como temos poço artesiano, decidimos estender a mão, dividindo a nossa água, e fomos colocando pessoas que precisavam na casa”, disse ele.

Nathália compartilhou que as igrejas, incluindo a Igreja São Luiz e o ginásio da Brigada Militar em Novo Hamburgo, têm sido locais onde conseguiram alimentos para sustentar as 15 pessoas que estão abrigadas em sua residência.

Ela destacou a necessidade diária de preparar comida para todos, tornando esses pontos cruciais para a obtenção de recursos essenciais. Além disso, explica que precisam de doações de colchões e que a realidade deles se repete em outros lares da região. 


Quinze pessoas dividem o mesmo espaço em Novo Hamburgo Foto: Giordanna Vallejos/GES-Especial

Abrigada na casa de Nathália, Poliana Correia, se sente grata por ter onde ficar com sua família. "Estamos aqui desde sexta-feira, para a gente é um alívio ter um lugar para ficar. O primeiro andar da nossa casa está submerso. A dos nossos tios, que estão aqui também, está totalmente submersa, no bairro Santo Afonso".

De Canoas para São Leopoldo


Ana Clara Dias de Oliveira e Cibele Pereira Dias Foto: Giordanna Vallejos/GES-Especial

Cibele Pereira Dias, relembra o momento em que teve que deixar sua casa em Canoas às pressas: "O caminhão passou dizendo que era para o pessoal sair o quanto antes das suas casas. Levantamos tudo, achamos que ia chegar só até a canela a água. A nossa casa está totalmente submersa. É brabo tu perder tudo, todas as coisinhas que tu adquiriu durante a vida."

Enquanto seu marido e seis filhos encontram-se em Canoas, ela permanece em São Leopoldo, na casa da sua mãe, com suas duas filhas, enfrentando a difícil realidade da perda e da incerteza. Junto a ela, uma de suas filhas, Ana Clara Dias de Oliveira, de 16 anos, compartilha sua angústia.

"Ficamos desalojados minha mãe, o marido dela e mais sete irmãos. No lugar onde é nossa casa, só aparece a água. As pessoas têm que se conscientizar, de quando tudo voltar ao normal, cuidar mais do meio ambiente”.

Ela acrescenta: “Antes pelo menos tínhamos um lar. Perdemos nossa cadelinha e nos sentimos muito tristes por não poder ajudar, lá tem muita gente desaparecida, muita gente morta, animais que precisam de ajuda. Eu trabalhava em um mercado e minha mãe em uma escolinha, nossos empregos foram junto com a água."

"Eles priorizam quem está nos acolhimentos"

A jovem também compartilha os desafios enfrentados desde a tragédia: "Estamos desde sexta-feira sem água aqui na vó, estávamos pegando água na vertente. Conseguíamos pouca doação, porque eles priorizam quem está nos acolhimentos."

Enquanto busca retomar a normalidade, Ana Clara apela por ajuda: "Precisamos de cesta básica, de roupas para meus sete irmãos mais novos, são todos crianças. Também estou procurando emprego", disse ela.

Acolhimento e suporte em São Leopoldo

De acordo com as orientações da prefeitura, aqueles que optaram por permanecer em suas residências estão recebendo apoio diário em forma de alimentos e água, fornecidos pelas equipes da força-tarefa.

Além disso, para os que se abrigam em casas de familiares e amigos, a Secretaria de Assistência Social (SAS) está estabelecendo espaços específicos em diferentes regiões, onde podem receber itens essenciais, como alimentos, produtos de higiene e limpeza.

Central de doações e foco nas necessidades emergenciais em Canoas

Para assegurar uma distribuição eficiente dos recursos, a prefeitura de Canoas estabeleceu uma Central de Entrega de Doações, operando diariamente das 8h às 22h, localizada na Avenida Inconfidência, esquina com a Avenida Getúlio Vargas, no antigo Asun.

Este centro tem sido um ponto de referência para aqueles que desejam contribuir com doações de alimentos e roupas, garantindo que a ajuda chegue rapidamente às mãos das vítimas. No entanto, até o momento, ainda não há uma logística organizada para levar donativos às pessoas ilhadas ou com dificuldade de sair de suas casas.

Mudanças dinâmicas de apoio em Novo Hamburgo

Em Novo Hamburgo, a prefeitura adota uma abordagem dinâmica para coordenar a ajuda às vítimas. As informações sobre como buscar assistência, incluindo alimentos e roupas, estão sendo atualizadas regularmente nos canais de comunicação oficiais da prefeitura, como redes sociais e site.

 

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