MISTÉRIO ASTRONÔMICO

Mistério da nebulosa Ovo de Dragão: resposta pode estar em um passado estelar violento e surpreendente

Entenda por que cientistas se surpreenderam com as características quase impossíveis da nebulosa e do sistema estelar que envolve

Publicado em: 22/04/2024 11:15
Última atualização: 22/04/2024 11:15

Há 3.800 anos-luz de diatância da Terra, seguindo na direção da constelação Norma, se encontra a nebulosa Ovo de Dragão. Raríssima, ela tem aproximadamente 7.500 anos, misteriosamente mais nova do que as estrelas que envolve.

Agora, cientistas buscam como isso pode ser possível, e a resposta pode estar em um passado violento, segundo informações do Observatório Europeu do Sul (ESO, da sigla em inglês).


Nebulosa Ovo de Dragão rodeia um binário de estrelas chamado HD 148937 Foto: ESO/VPHAS team. Acknowledgement: CASU

Quando os astrônomos observaram um par estelar no centro dessa impressionante nuvem de gás e poeira, tiveram uma surpresa.

Os pares de estrelas são normalmente muito semelhantes, como gêmeas, mas as que ficam na nebulosa são diferentes. Porém, no sistema chamado HD 148937, ambas são mais massivas que o Sol, mas uma é mais jovem e, ao contrário da outra, é magnética.

"Uma nebulosa cercando duas estrelas massivas é uma raridade, e fez com que sentíssemos que algo muito legal teria que ter acontecido nesse sistema", afirmou Abigail Frost, astrônoma do ESO no Chile e autora principal do estudo publicado na semana passada, na revista científica Science.

Uma raridade e um mistério

Os cientistas tentavam entender o que teria acontecido para que as estrelas não fossem iguais, além da nebulosa ser tão mais nova que elas. "Não faz qualquer sentido, uma vez que deveriam ter se formado ao mesmo tempo", disse Abigail.

A diferença de idade - uma estrela parece ser pelo menos 1,5 milhões de anos mais jovem que a outra - sugere que algo deve ter rejuvenescido a estrela mais massiva.

Outro mistério da nebulosa NGC 6164/6165 é que ela apresenta níveis altos de nitrogênio, carbono e oxigênio: elementos normalmente encontrados apenas no interior de estrelas, não fora.

"É como se um evento violento tivesse dado a eles a liberdade"

"É como se um evento violento tivesse dado a eles a liberdade", é o que deduziu a ESO. E novos dados confirmaram a teoria.

Eles sugerem que originalmente existiam três estrelas no sistema, duas próximas uma da outra e uma terceira que ficava mais distante.

Entretanto, as que ficavam perto acabaram colidindo e se fundindo, virando uma estrela magnética e jogando um pouco do material próprio no espaço, criando a nebulosa. Este evento violento alterou para sempre o destino do sistema, de acordo com o próprio observatório.

"A estrela mais distante formou uma nova órbita com a estrela recém-fundida, agora magnética, criando o binário que vemos hoje no centro da nebulosa", explicou Hugues Sana, professor da KU Leuven, na Bélgica e principal investigador.

Isso também explica porque é que uma das estrelas do sistema é magnética e a outra não - outra característica peculiar da HD 148937.

O estudo

Para desvendar o mistério da nebulosa Ovo de Dragão, a equipa reuniu dados de nove anos provenientes dos instrumentos Pioner e Gravity, ambos montados no Very Large Telescope Interferometer (VLTI) do ESO, localizado no deserto chileno do Atacama.

Como estrelas obtêm campos magnéticos

O estudo também ajuda a resolver um mistério de longa data na astronomia: como as estrelas massivas obtêm os seus campos magnéticos.

Embora os campos magnéticos sejam uma característica comum em estrelas de baixa massa como o nosso Sol, estrelas mais massivas não conseguem sustentar campos magnéticos da mesma forma. No entanto, algumas estrelas massivas são de fato magnéticas.

Os astrônomos já suspeitavam há algum tempo que estrelas massivas poderiam adquirir campos magnéticos quando duas estrelas se fundiam. Mas esta é a primeira vez que os investigadores encontram evidências tão diretas disso.

No caso do HD 148937, a fusão deve ter acontecido recentemente. "Não se espera que o magnetismo em estrelas massivas dure muito tempo em comparação com o tempo de vida da estrela, por isso parece que observamos este evento raro logo depois de ter acontecido", disse Abigail.

*Com Estadão Conteúdo

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