EXTORSÃO VIRTUAL

"Derrubaram minha conta": Novo golpe traz prejuízos a empresários do Vale do Sinos

Saiba como hackers estão agindo para atacar redes sociais e tornar vítimas reféns

Publicado em: 09/01/2024 18:52
Última atualização: 09/01/2024 18:52

Uma estratégia nova e agressiva de extorsão virtual está surpreendendo a Polícia e lesando pequenos empresários no Vale do Sinos. No fim de 2023, os ataques fizeram pelo menos quatro vítimas em Novo Hamburgo. E continuam. “O policial que registrou minha ocorrência disse que nunca tinha visto algo parecido”, relata um empreendedor de 19 anos.

Dono de uma lavanderia de autoatendimento no Centro de Novo Hamburgo, o jovem se viu obrigado a trocar o número de uma conta comercial do WhatsApp, usada no relacionamento com os clientes, após três bloqueios e exigências de dinheiro dos golpistas. “Derrubaram minha conta. Ainda não sei como conseguiram.”

Em outra frente, praticada há cerca de quatro anos, os hackers fizeram ataques com robôs, transformados em falsos perfis, ao Instagram da empresa. Tentaram derrubar a rede social do hamburguense e exigir dinheiro para recuperar o perfil. “Eu fechei o acesso antes do Instagram me bloquear.”

Sem serviço

O prejuízo é incalculável. “Em valores não tem como dimensionar, mas podemos dizer que o transtorno é muito grande. Por ser uma lavanderia de autoatendimento, todo contato com os clientes era por aquele número. A prestação do serviço foi bastante afetada, além da perda de clientes, pois não havia como responder a quem nos procurava.”

Os criminosos usaram quatro números diferentes nas ameaças ao hamburguense, todas por mensagens de texto, com DDDs da Grande São Paulo e Grande Curitiba. Em apenas uma conta usavam foto no perfil. Era do personagem hacker Anonymous. Em outra, se identificavam como “Lula”. As vítimas estariam sendo escolhidas de forma aleatória pelos vigaristas, possivelmente pelo registro de microempreendendor individual (MEI).

Como funciona

O hamburguense recebeu a primeira mensagem na segunda semana de novembro. “Disseram que iam derrubar a conta. Não pediram dinheiro”, relata. O aviso foi feito pela manhã. “Não dei bola. À noite, fiquei sem o WhatsApp.”


Golpe WhatsApp Foto: GES

Dois dias depois, a vítima conseguiu acessar a conta já com mensagem de que seria bloqueada de novo. E foi. “Voltou o acesso e pediram para negociar, através de outro número. Queriam 600 reais.”

O dono da lavanderia não pagou. Na manhã de 23 de novembro foi à Central de Polícia de Novo Hamburgo e fez boletim de ocorrência. “À tarde derrubaram novamente e não tive mais acesso.”

Em meio às perturbações com o WhatsApp, os hackers ameaçavam tirar do ar também o Instagram da empresa. “Mandaram seguidores em massa, falsos, para que o Instagram identificasse que são robôs e bloqueasse a conta. Resolvi fechar a rede, deixando quatro dias no privado, e analisando cada interessado no acesso.”

Depois de trocar o número do WhatsApp, os ataques pararam. No Instagram, que reabriu dias depois, não foi mais importunado. Ficou o medo. “Agora, quando vem mensagem de desconhecido, surge a desconfiança de que seja um estelionatário.”

O negócio de derrubar contas no Instagram e exigir dinheiro para recuperá-las eclodiu no final de 2020. Em relação ao WhatsApp, a prática é recente. A principal suspeita é que os hackers conseguem o bloqueio ao disparar denúncias em massa contra a conta da vítima, com uso de perfis falsos ou bots.

O drama da impotência

O empresário resume o drama da impotência diante de golpistas. “Imagina você ter o WhatsApp bloqueado por manobra de estelionatários sem ter o que fazer.” Ele conta que não conseguiu retorno do suporte do aplicativo, que também não se manifestou à reportagem.

Órgão especializado na investigação de delitos cibernéticos no Estado, a Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos não se posiciona em razão da greve de silêncio dos delegados por aumento de salários.

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