DESINTERESSE

"Apagão de professores": O que diz estudo sobre o futuro da profissão no RS

Projeção do Sesi-RS alerta para falta de docentes na educação gaúcha nas próximas décadas

Publicado em: 10/10/2023 21:38
Última atualização: 13/10/2023 09:35

Em menos de 20 anos, o Rio Grande do Sul terá de lutar contra a escassez de professores para a educação básica. O alerta é do estudo "Apagão de professores? Uma análise dos impactos da oferta de docentes no RS", divulgado nesta terça-feira (10) pelo Observatório Sesi da Educação. De acordo com a pesquisa, apresentada no Instituto Sesi de Formação de Professores, em Porto Alegre, a partir de 2035, o Estado terá 1.057 professores a menos do que a demanda, situação que irá se acentuar.


Sônia, Colombo e Ecleia durante apresentação do estudo Foto: Eduardo Amaral/GES-Especial

Pela projeção, a situação vai se agravar ao longo dos anos, e deve chegar a uma defasagem superior a 10 mil educadores em 2040. De acordo com o levantamento, o desinteresse pela docência, refletido na alta evasão dos cursos de formação, é o principal fator para esta falta de profissionais.

Entre os anos de 2010 e 2021, a queda no número de pessoas que concluíram cursos de licenciatura foi de 59%. "Culturalmente, e erradamente, a gente colocou o professor em uma posição de inferioridade", aponta a gerente de Operações do Instituto Sesi de Formação de Professores, Ecleia Conforto. Ela considera essa percepção social como uma das razões para desvalorização salarial da categoria.Mas o problema não se restringe ao cenário projetado para os próximos anos, quando pode acontecer uma falta geral de professores para o ensino fundamental. Uma das situações já vividas no Estado é a chamada "escassez oculta", que consiste no número de professores que ministram aulas fora da sua área de formação. "Ainda temos profissionais de administração dando física, matemática, que não são nem das áreas de licenciatura. Comparado com outros países, isso é um trauma muito grande", avalia a gerente de educação do Sesi, Sônia Bier.

Uma situação que acaba impactando também na própria formação de novos professores. "Se torna um círculo vicioso", aponta Sônia. Sem a formação básica adequada e com os baixos índices educacionais em matemática, por exemplo, os estudantes que ainda buscam formação em licenciatura acabam desistindo ao se deparar com desafios do curso.

"Vamos ver nas universidades muitos licenciados com pouca preparação conceitual para isso, e à medida que a complexidade disso vai aumentando, falta condição de acompanhar, temos isso nas licenciaturas de exatas com muita força", analisa a gerente de educação do Sesi.

Muito além da questão financeira

Sônia destaca que além da questão financeira, o professor merece valorização da sociedade. “Nós hoje, facilmente, desqualificamos professores porque entendemos que a forma como ele está conduzido alguma coisa não nos é simpática, sem nenhum conhecimento mais profundo de formação. Poucas vezes se faz isso com médico, arquiteto e engenheiro”, avalia.

Superintende do Sesi-RS, Juliano Colombo complementa, apontando que essa falta de entendimento social sobre o papel do professor colabora para a redução na busca de cursos de licenciatura. “Se o pai não valoriza o professor, com certeza o aluno não vai valorizar.” Mesmo com o cenário pouco promissor de momento, Ecleia acredita ser possível evitar este apagão, mas é preciso investir na formação continuada professores, de forma a valorizar a carreira.

Estudo terá desdobramentos regionais

Nesta primeira etapa do estudo, que terá desdobramentos de forma mais regionalizada, os pesquisadores do Sesi cruzaram as projeções de envelhecimento da população para os próximos anos. A projeção aponta que haverá redução no número de crianças e adolescentes em idade escolar, entre 4 e 18 anos, ao mesmo tempo em que há um envelhecimento dos professores do ensino fundamental. O problema é que o desinteresse pela profissão vem causando um número menor de professores aptos a atenderem a demanda, que deverá chegar ao ponto crítico em 2040.

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