Herói da Marvel faz 50 anos quase esquecido

O super-herói da Marvel Punho de Ferro (Iron Fist) está comemorando seu cinquentenário. O personagem foi criado em 1974 pelo argumentista Roy Thomas e pelo artista Gil Kane. Originalmente, tratava-se da história de um praticante de artes marciais, Daniel Rand, que era treinado em uma cidade mística no Oriente e adquiria o poder sobrenatural de concentrar energia (seu "chi", na tradição chinesa) em um golpe com os punhos.

Embora tenha chegado a ser uma figura popular nos quadrinhos da editora até os anos 1980, o Punho de Ferro chega aos 50 anos parcialmente esquecido mesmo no universo cinemático da Marvel, onde chegou a ter um seriado no streaming, que durou duas temporadas entre 2017 e 2018 e depois foi cancelado.

O Punho de Ferro fez sua estreia na revista Marvel Premiere em maio de 1974. O argumentista Roy Thomas contou ter criado o personagem no meio do entusiasmo pelos filmes de artes marciais e kung-fu nos anos 70. Na mesma época, outro personagem da Marvel, Shang Shi - o Mestre do Kung Fu tentava capitalizar a popularidade de atores como Bruce Lee.

No caso do Punho de Ferro, a Marvel também tentava um apelo junto aos jovens de periferia da classe média norte-americana. Assim como Luke Cage, o super-herói era um morador de gueto, vivendo em bairro pobre e às voltas com gângsteres.

Mitologia

A origem do Punho de Ferro tinha toques mitológicos. Daniel Rand era filho de um homem que havia descoberto acidentalmente no Oriente uma cidade mística que só aparece no plano terreno de dez em dez anos. Eventualmente, ele optava por levar uma vida comum e criar família nos EUA. Anos depois, no meio de uma trama de traição, Daniel perdia os dois pais enquanto a família tentava chegar ao santuário. O jovem era criado por mestres e aprendia a canalizar o poder do chi, antes de voltar para Nova York em busca de justiça.

Ainda nos anos 1980, o Punho de Ferro passou por altos e baixos comerciais e a Marvel o agrupou junto com Luke Cage em uma dupla, os "heróis de aluguel", em histórias que contavam como ambos haviam criado uma espécie de agência de detetives para trabalhar em seu bairro nova-iorquino.

Como muitos personagens da Marvel nos anos 1970, o Punho de Ferro trazia para os quadrinhos um pouco da realidade social da periferia urbana norte-americana. Daniel Rand era namorado da espiã Misty Knight, que era afrodescendente. Foi o primeiro casal inter-racial da Marvel.

Assim como o Demolidor e o próprio Luke Cage, o Punho de Ferro vivia na periferia violenta de Nova York. Tal como o Homem-Aranha, conciliava o combate a vilões com um cotidiano de problemas financeiros e desabafos ou discussões com a namorada e os amigos.

Adaptação

O Punho de Ferro ganhou seriado em 2017, dentro de convênio com a Netflix. A série foi estrelada por Finn Jones, mas acabou cancelada na segunda temporada. A Marvel tinha planos de um filme de cinema, mas não houve confirmação, embora o ator tenha mencionado ainda este ano que ainda há planos do retorno do personagem nas telas. Atualmente o Punho de Ferro faz aparições esporádicas nas adaptações da Marvel para animação.

Contexto histórico

Curiosamente, a popularidade reduzida do herói nos dias atuais pode estar ligada ao próprio fenômeno que ele ajudou a impulsionar. Nos anos 1970, o Punho de Ferro, assim como Shang Shi, foi a tradução norte-americana em quadrinhos da popularização crescente das artes marciais e das tradições chinesas e japonesas. Eventualmente, nos anos 1980, uma onda de cultura japonesa invadiria o mercado editorial norte-americano, com o culto aos animes e aos mangás. Pouco depois, já nos anos 2000, seria a vez da massificação da cultura chinesa, acompanhando a crescente importância da China na economia mundial.

Cada um destes movimentos acabou popularizando internacionalmente títulos e artistas tanto do Japão quanto da China. No meio disto tudo, o Punho de Ferro, pioneiro da importação da cultura chinesa para os EUA, acabou envelhecendo bem mais do que sugeririam seus 50 anos.

Entre o legado e a crítica de apropriação cultural

Em meio a críticas de que o Punho de Ferro era um personagem norte-americano fazendo apropriação da cultura chinesa, a Marvel chegou a lançar uma minissérie em 2022 com outro jovem encarnando o super-herói, já em uma tentativa de revitalizar o Iron Fist em um contexto mais globalizado.

Seja como for, entre altos e baixos o Punho de Ferro deixou seu legado na cultura pop e na cronologia da Marvel, além de, ao longo dos anos, colecionar um histórico editorial impressionante. Foi criado por Roy Thomas, que foi um dos primeiros sucessores de Stan Lee na equipe criativa da Marvel, e pelo artista Gil Kane, que havia trabalhado em algumas das fases mais significativas do Homem-Aranha.

Ao longo de seu histórico de publicação, Punho de Ferro chegou a ganhar capas de Earl Norem, um dos artistas lendários da editora, além de ser desenhado por nomes como John Byrne, Sal Buscema e Mike Zeck, entre outros.