Reclamações continuam

FREE FLOW: Cobranças sobre eixos suspensos se multiplicam entre caminhoneiros

Motorista gravou vídeo com caminhão vazio que recebeu cobrança como se estivesse carregado

Publicado em: 29/04/2024 19:49
Última atualização: 30/04/2024 12:06

A cobrança indevida de pedágio sobre caminhões que trafegam com eixos suspensos continua gerando reclamações do sistema free flow. Além de pagarem uma tarifa mais alta, os profissionais se queixam da dificuldade de conseguirem contestar os valores e da falta de uma solução, já que o problema se repete. Um dos motoristas, inclusive, gravou um vídeo (abaixo) para mostrar que recebe a cobrança integral, de todos os eixos rodando, mesmo com o caminhão baú vazio.


Free flow na RS-240, em Capela de Santana Foto: Débora Ertel/GES-Especial

O produtor rural e transportador Leonor Henzel, 38 anos, de Feliz, estima que a Concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG) precisa devolver mais de R$ 1 mil em pedágio. “Toda a semana acontece. É triste isso aí. Tem que lá abrir uma reclamação, aí passam para outro setor e dizem que vão devolver. Mas até hoje não recebi o valor de todas as cobranças erradas”, lamenta.

Henzel tem uma carreta Volvo de sete eixos que, quando está vazia, trafega com três eixos suspensos. O veículo transporta material de construção e composto orgânico. Apesar disso, recebe cobrança integral em praticamente todas as viagens. Ele conta que o irmão, Agenor Henzel, 43, é o motorista do veículo e já chegou a diminuir a velocidade quando passa pelos pórticos, na esperança de ser cobrado corretamente.

“Nada contra pagar o pedágio, mas que seja o valor justo. Meu irmão toda a semana tem que parar lá [base da CSG] e reclamar. O cara se estressa e não acontece nada”, diz. Segundo ele, até hoje teve duas devoluções de valores, uma com valor próximo de R$ 50 e outra de R$ 208,74.

O motorista Nelson Neri da Silva, 57, faz duas viagens diárias de Carlos Barbosa a Sapucaia do Sul para transportar areia. Ele desce vazio e sobe carregado. “Na ida, vou com dois eixos erguidos. Cobram errado direto. Tem que ligar três, quatro vezes para reclamar. Quando eu passo no free flow, meu chefe já olha na mesma hora para ver se não veio errado de novo”, descreve Silva.

Também buscando areia em Sapucaia, mas saindo de Flores da Cunha, Jaime Francisco Lucena, 57, é motorista autônomo que reside em Caxias do Sul. Passa pelo free flow da RS-446, em Carlos Barbosa, e o da RS-122, em São Sebastião do Caí.

Com um caminhão bitrem de sete eixos, ele gastaria R$ 506 por dia se a cobrança fosse realizada no valor correto. No entanto, sempre fica mais alta. “Me ligaram e pediram o número do Pix, dizendo que iam entrar em contato. Mas não teve ressarcimento”, comenta.

Lucena conta que recentemente buscou o caminhão no Paraná e passou por cinco pedágios cujo sistema de cobrança tinha dispositivo fixo na pista. “Registrava e marcava certinho, com desconto dos eixos. Aqui, uma hora te cobram um valor e outra hora, outro”, compara.

Condutor reclama do sistema de monitoramento

Na semana passada, a reportagem contou a história do transportador Renato Grapeggia, 45, de Veranópolis, que enfrenta o problema desde que o pórtico de Antônio Prado passou a funcionar. Ele abriu reclamação sobre as cobranças indevidas na CSG, Secretaria de Parcerias e Concessões (Separ) e Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Estado (Agers).


Caminhão com eixo erguido recebe cobrança no free flow Foto: Reprodução

Grapeggia entrou em contato com a redação novamente porque recebeu da CSG uma foto do seu caminhão, mostrando o momento em que passa por um dos pórticos, com os pneus circulados. “Será que você também não percebe que o último eixo lá está um pouquinho acima do outro eixo? Eu percebo isso. Ele [representante da CSG] diz que não”, contesta o transportador.


Imagem capturada pelo free flow no momento em que o caminhão passou pelo pórtico de pedágio Foto: Reprodução CSG/Arquivo pessoal de Renato Grapeggia

Para Grappegia, o problema está no posicionamento das câmeras do free flow, que fazem o registro de cima para baixo. “Você pegar uma filmagem de cima pra baixo, não consegue distinguir que o eixo está erguido. Agora, se você for lá no nível do solo, você consegue distinguir. Ali que está o erro, ali que está o problema deles”, diz ele.

O motorista tem um Mercedes-Benz Atego que, conforme revenda autorizada da montadora, fica com o eixo suspenso a dez centímetros do chão. A Separ informou na semana passada, que acompanha o caso de Grappegia, e que os pórticos free flow contam com imagens em alta definição da passagem dos veículos. A Agers contava com 33 reclamações sobre o pedágio que serão avaliados no próximo mês. 

A CSG foi questionada quantos centímetros do chão o eixo suspenso do caminhão precisa estar para que o sistema possa fazer a leitura. No entanto, ainda não respondeu. A concessionária informa que, no caso de contestação de cobrança, o condutor deve informar o fato pelo telefone 0800-122-240 ou pelo e-mail para cac@csg.com.br.

De acordo com a CSG, os veículos registrados para pagamento têm sua cobrança triada e verificada de forma híbrida.

Veja vídeo

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