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"Aquilo que mais tem drenado minha energia é a frustração", diz empresário calçadista que está com Parkinson

Aos 69 anos, mineiro Anderson Birman, da Arezzo, lança livro contando sucessos e fracassos de sua história empresarial

Publicado em: 17/12/2023 20:38
Última atualização: 17/12/2023 20:39

Fundador de uma empresa que é referência internacional no setor de calçados e bolsas e que tem valor de mercado na faixa dos R$ 7 bilhões, o empresário mineiro Anderson Birman, de 69 anos, acaba de lançar um livro contando sua caminhada empresarial de sucessos e fracassos.


Anderson Birman na foto que estampa a capa de seu livro Foto: Reprodução

No livro "A cada passo - Anderson Birman", o fundador da Arezzo conta desde sua origem em Manhuaçu (MG) até como está a vida nos últimos anos, depois de ter passado o comando da empresa para primogênito Alexandre Birman e de descobrir que está com Parkinson. O livro de 288 páginas foi feito a partir de depoimentos à jornalista Ariane Abdallah e saiu pela editora Citadel.

"Se eu tivesse 25% do dinheiro que acumulei, já seria o bastante"

Em um trecho, o fundador da empresa que fatura R$ 5 bilhões por ano diz que, depois de ter ficado rico, percebeu que não precisava de tudo aquilo. "Se eu tivesse 25% do dinheiro que acumulei, já seria o bastante", destaca, manifestando certa decepção com "o lado B" da riqueza.

Ao contrário da maioria das biografias de empresários, que enaltecem seus sucessos e escondem seus fracassos, o livro "A cada passo - Anderson Birman" se mostra aberto a compartilhar seus acertos e erros. Admite, por exemplo, que "por comportamentos que hoje reconheço não serem adequados", "não me encaixo mais na forma de gestão de uma empresa dos dias de hoje".

Conta também histórias e projetos que deram errado ao longo da história da Arezzo, fundada em 1972. Esses relatos vão desde o gerente que fingiu entender da fabricação de calçados mas não sabia nada até o sapato de salto de madeira que descolava em dois minutos de uso e do representante comercial que mentiu sobre grande encomenda.

Neste fim de semana o jornal Folha de S.Paulo trouxe uma entrevista com Birman. As respostas foram enviadas por escrito por conta do avanço do Parkinson. O empresário destaca a missão de ser sapateiro, conta por que saiu da empresa, há dez anos, e de como foi a sucessão e a divisão dos bens entre os filhos, em vida.

Parkinson foi descoberto há cerca de dois anos

O empresário fala também da doença de Parkinson, descoberta há cerca de dois anos. Diz que "foi duro" quando recebeu o diagnóstico. "Sempre fui muito ativo, comunicativo e independente. Mas entendo que faz parte da vida e está me trazendo a oportunidade de olhar para as coisas de um jeito diferente e a ser grato por tudo que conquistei até aqui."

"Desde então, aquilo que mais tem drenado a minha energia é a frustração. Sinto-me impotente diante dessa doença que, aos poucos, me distancia de quem eu um dia fui. Sempre tive facilidade para falar mas, de repente, essa se tornou uma das habilidades mais difíceis pra mim", narra.

"A sensação é a de que minha mente 'dá branco', de que faltam palavras, especialmente quando fico nervoso. Tento ser positivo e cultivar a esperança de que, apesar das limitações, posso viver uma vida com qualidade", acrescenta.

Questionado pela Folha de S.Paulo sobre seus melhores e piores passos até aqui, Birman respondeu: "Os melhores foram criar meus filhos e minha empresa, que hoje andam juntos. O pior talvez tenha sido focar em acumular tanto no mundo material, sem saber que, com o tempo, isso não me traria mais tanta satisfação".

Quais são as marcas do grupo Arezzo&Co?

A empresa fundada em 1972 em uma garagem fatura cerca de R$ 5 bilhões por ano e é dona das marcas de calçados Arezzo, Schutz, Alexandre Birman, Anacapri, Fiever, Alme, Vans, My Shoes, Vicenza e Paris Texas, e também enveredou pelo mundo da moda, com Reserva e Carol Bassi.

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