ESPORTE

COPA PEQUENO GIGANTE: Jovens viajam mais de um dia de ônibus pelo sonho de virar jogador profissional de futebol

Competição em Campo Bom reúne mais de 1,8 mil atletas de diferentes cantos do País, que percorrem uma longa jornada em busca do sucesso nos campos

Publicado em: 30/01/2024 16:44
Última atualização: 30/01/2024 17:53

Para muitos jovens que disputam a Copa Pequeno Gigante, em Campo Bom, o título da competição fica em segundo plano, pois em primeiro está o sonho máximo de se tornar um jogador de futebol profissional. Mais que comemorar um gol em um estádio lotado, os meninos querem mudar de vida e, principalmente, a de suas famílias.

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Lohan, Taylon e Renan no alojamento do Sub-19 do Santa Cruz, do Rio de Janeiro Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

Entre os mais de 1,8 mil jogadores que pisaram em Campo Bom, está Renan Pereira dos Santos, de 17 anos, atacante do Santa Cruz sub-19, do Rio de Janeiro. Morador da favela Santo Amaro, o jovem perdeu a mãe aos 14 anos e vive com seu pai, a sobrinha e a irmã mais velha. E é por todos eles que ele entra em campo na esperança de ser visto e receber uma oportunidade em um time grande.

O caminho até Campo Bom não foi fácil. Na última quinta-feira (25), véspera do início da competição, Renan acordou às 7h30, tomou café e arrumou sua mala. Saiu de casa duas horas depois, pegou metrô e trem até chegar aos companheiros de equipe no Centro do Rio de Janeiro. Já eram 18 horas quando o ônibus partiu em direção ao Rio Grande do Sul.

“Paramos às 23h30 em um posto de gasolina, era tudo muito caro, mas conseguimos nos alimentar. Retomamos a viagem com muitas brincadeiras e conversas. Lá pelas 2 horas tentamos dormir, mas nem todos conseguiram porque a viagem cansa e os bancos não eram tão confortáveis”, relembra.

Já na manhã seguinte, às 10 horas, fizeram a última parada, no Paraná, antes do destino final. Foram mais nove horas de estrada à base de biscoitos e outros alimentos até chegarem no alojamento, em Campo Bom, por volta das 19h30, depois de quase 25 horas de viagem. A equipe mal desembarcou e já precisou correr para a cerimônia de abertura. Ao retornarem, o refeitório do alojamento já estava fechado e precisaram sair pela cidade, que ninguém conhecia, em busca de alimentos. A solução veio através de cachorros-quentes.

De volta ao alojamento, era necessário arrumar os colchonetes, e nesse momento, já passava da 1h30. Foram poucas horas de sono e pouca alimentação até estrearem na competição, às 7 horas de sábado (17). “Infelizmente, não conseguimos ganhar por conta do cansaço. Mas sou grato a Deus, à minha família e meus companheiros por que conseguimos vir para cá, mesmo com tantas dificuldades”, afirma.

Alojamento do Sub-19 do Santa Cruz, do Rio de JaneiroDário Gonçalves/GES-Especial
Alojamento do Sub-19 do Santa Cruz, do Rio de JaneiroDário Gonçalves/GES-Especial
Alojamento do Sub-19 do Santa Cruz, do Rio de JaneiroDário Gonçalves/GES-Especial
Jogadores do sub-19 do Santa Cruz, do Rio de Janeiro, viajaram 25 horas de ônibusfotos Dário Gonçalves/GES-Especial

O desempenho em campo do sub-19 do Santa Cruz não foi bom e a equipe deixou a competição com duas derrotas e um empate, sem conseguir avançar à próxima fase. Porém, o sonho continua: “Nós já temos um não e vamos em busca do sim. Nossa família sempre acreditou em nós, e agora temos que fazer a nossa parte para termos um futuro melhor”, finaliza.

Vida nas favelas

Renan e os companheiros de time Taylon dos Santos Pacheco e Lohan Santos Pinheiro da Rocha, todos de 17 anos, participaram no ano passado da Taça das Favelas, no Rio de Janeiro. Na época, Renan e Taylon, que é volante, atuavam pelo Turano. Aliás, os dois jogam juntos desde 2020. Já Lohan, lateral, atuava pelo Conjunto Brasilit. O destaque na competição chamou a atenção do Santa Cruz, onde jogam atualmente.

Os três vivem em favelas do Rio de Janeiro. Renan em Santo Amaro, como já citado; Taylon na Barreira do Vasco, próximo ao Estádio São Januário; e Lohan em Senador Camará. Jogando desde a infância, os três querem um futuro melhor e tirar suas famílias de um ambiente de pobreza e, muitas vezes, violento, como eles mesmos contam. “Tudo o que eu não tive, minha família vai ter”, define Lohan.

O sonho também vive no sub-15

Também em busca deste sonho está Swen Ramon Viana da Silva Engeler, de 15 anos, atacante do Santa Cruz. O garoto se dedica desde os 7 anos e tem Cristiano Ronaldo como referência. “A mentalidade dele é imparável, então me espelho muito nele. Para mim, essa profissão permitirá que eu mude de vida e ajude a minha família. Estou disposto a tudo por isso, se for pra comer a grama, eu como, vou dar a vida”, afirma.

Companheiro de time, Brendo Palermo, 15 anos, zagueiro, joga desde os 5 anos por influência do pai. “Passei a treinar aos 7 anos e tudo foi muito difícil, sem recursos, mas fui crescendo e tenho foco para alcançar este sonho”, comenta. João Cayo, 16, é parceiro de zaga e atua desde os 9 anos. Passou pela base do Angra e hoje está no Santa Cruz buscando realizar seu sonho e de dar um futuro aos seus familiares. Para seguir o sonho, João deixou a casa dos pais no interior do Rio, e hoje mora com os tios. “O que mais ‘pega’ é a distância dos meus pais, mas é algo que vai valer a pena", conta.

João CayoDário Gonçalves/GES-Especial
Swen se espelha em CR7 e o colega Brendo em Sergio RamosDário Gonçalves/GES-Especial

Seja no sub-15 ou no sub-19, o objetivo é o mesmo. E para chegar lá, cada um tem um ídolo como referência. No caso de Swen, é Cristiano Ronaldo; Brendo se inspira em Sergio Ramos. Renan vê John Kennedy como ídolo, Taylon se espelha em Casemiro e Lohan no lateral Marcelo.

Aos 17 anos, quem também é um exemplo para eles é Endrick, atualmente no Palmeiras e na Seleção Brasileira, mas já vendido ao Real Madrid. O garoto jogou a segunda edição da Copa Pequeno Gigante e foi campeão marcando dois gols na final da sub-12 contra o Grêmio, em 2019. “Ele tem idade para estar aqui com a gente, mas já está com a Seleção Brasileira. Então é uma inspiração para nós. Assim como ele esteve onde estamos, sonhamos em estar onde ele está”, finaliza Lohan.

Últimos dias de competição

A Copa Pequeno Gigante, que teve sua primeira edição em 2019 e não foi realizada em 2021 e 2022 por conta da pandemia de Covid-19, chegou a sua 5ª edição em 2024. Neste ano, foram mais de 1.840 atletas e 42 clubes que, divididos por categorias, somam 92 equipes. A abertura ocorreu na noite de quinta-feira (25), com o empate em 2 a 2 entre 15 de Novembro-RS x MZ Futebol- SC, no sub-14.


Abertura da 5a Copa Pequeno Gigante foi sexta-feira à noite Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

Nesta terça-feira (30), ocorrem as quartas de final e as semifinais das categorias sub-13/14/15//19. As categorias sub-10/11/12 entram em campo nesta terça direto para as semifinais. Já a sub-17, por ter mais equipes, têm uma fase extra. Jogam nesta terça as oitavas e as quartas de final, e na quarta-feira pela manhã, as semifinais.

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Todas as finais ocorrem ao longo da tarde de quarta-feira (31) no Estádio Sady Schmidt, com o jogo de encerramento às 18h40, das equipes sub-17. Os ingressos custarão R$ 10,00 por pessoa.

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