VALE DO PARANHANA
CLÍNICA CLANDESTINA: Funcionária que vivia sob ameaças era estuprada duas vezes por semana pelo patrão em Taquara
Vítima, mantida em situação análoga à escravidão, prestou depoimento na Delegacia de Polícia na manhã desta terça-feira (3)
Última atualização: 17/10/2023 23:14
ATUALIZAÇÃO:
- Polícia e Bombeiros levam cães farejadores para procurar corpos no terreno
- "Nenhum familiar nos procurou para saber dos idosos", afirma delegado
- Justiça nega pedido de prisão preventiva contra dono do estabelecimento e enteado
A funcionária de 42 anos resgatada de uma clínica clandestina de idosos de Taquara na segunda-feira (2) prestou depoimento nesta terça (3) à Polícia Civil. Vítima, assim como os pacientes, ela revelou que era estuprada pelo patrão e pelo enteado dele duas vezes por semana e que isso acontecia há, pelo menos, dois anos.
"Ele [patrão] chegava de madrugada na casa, me pegava à força e me abusava. Normalmente ele estava bêbado. O enteado também me estuprava, mas nunca estava bêbado", contou.
Segundo a vítima, que há seis anos vinha sendo mantida em cárcere privado em meio a condições desumanas, a frequência dos abusos passou a aumentar com o tempo. Mantida em condições análogas à escravidão, a mulher tinha a responsabilidade de cuidar de oito idosos e de um adulto em estado vegetativo. Todos foram resgatados pela Polícia do local insalubre.
A proposta de trabalho surgiu quando ela ainda era interna em uma clínica de reabilitação que o patrão mantinha em Porto Alegre. Aceitou assumir a função no Vale do Paranhana, com a promessa de ser remunerada para cuidar dos idosos. Só que o acordo não foi cumprido. "Eu não recebia nada, salário nenhum e ainda passava fome. Ele [patrão] ainda tinha minhas senhas e cartões bancários. Fui obrigada a assinar papéis", declarou, durante o depoimento à Polícia.
No tempo em que foi mantida em cárcere privado, a vítima ficou sem encontrar familiares e, mesmo tendo a possibilidade de sair do local, vivia sob ameaças. "Ela vivia subjugada e oprimida, o que segue caracterizando o caso como cárcere", explica o delegado Valeriano Garcia Neto.
"Me ameaçava e agredia. Eu tinha medo de denunciar. No ano passado, tentei denunciar para a Polícia, quando consegui um aparelho celular na casa, mas não soube explicar [o endereço] onde estava", conta a mulher.
A Polícia não deu detalhes, mas informou que pedirá a prisão preventiva do dono da clínica e do enteado dele. Ambos são moradores de Porto Alegre.