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NOVO HAMBURGO

"Foi uma fatalidade gigantesca", diz enfermeiro que socorreu menino em acidente com viatura da Brigada Militar

Profissional da saúde relata esforço e desespero de brigadiano para tentar salvar a criança, que morreu no hospital

Publicado em: 30/01/2024 às 06h:00 Última atualização: 30/01/2024 às 10h:14
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Imagens de câmeras de segurança mostram acidente com viatura da BM em Novo Hamburgo:

Imagens mostram acidente com viatura da BM em Novo Hamburgo

“Preciso salvar essa criança”, repetia, desesperado, o soldado de 30 anos que capotou a viatura da Brigada Militar enquanto socorria, com dois colegas, o menino Miguel Henrique Padilha dos Santos, 2, em crise convulsiva. A aflição é relatada pelo enfermeiro Roberto Tyska Bueno, 50, que estava voltando da praia com a família e parou para resgatar a criança, que acabou morrendo no Hospital Municipal de Novo Hamburgo. “Foi uma fatalidade gigantesca”, afirma.

Viatura da BM tombou após colisão com três veículos em Novo Hamburgo  | abc+



Viatura da BM tombou após colisão com três veículos em Novo Hamburgo

Foto: Silvio Milani/GES-Especial

Especialista e instrutor de primeiros socorros, Tyska tem 30 anos de experiência na área e já foi coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No carro estava a esposa, Claudia, 52, também enfermeira especialista em emergência, e a enteada Bárbara, 21, estudante de Medicina. “Foi comovente a preocupação daquele PM que capotou a viatura. A gente fez o que pôde, mas infelizmente não conseguimos salvar essa criança.”

Como aconteceu?

Tyska – Estava voltando da praia com a família, já perto de casa, quando vimos o acidente e três policiais e uma mulher saindo da viatura. Pensando que fosse um capotamento sem vítimas, parei ao lado da viatura tombada e perguntei se tinha alguém machucado. O policial que dirigia estava desesperado. “Tem uma criança muito ferida aqui, debaixo da porta. Temos que salvá-la”. Quando abri a porta, ele já estava dentro do meu carro com o bebê no colo. Minha esposa e minha enteada foram fazendo manobras de ressuscitação no banco traseiro, com o policial ao lado, até a chegada ao hospital, que não deve ter levado três minutos. Foi uma operação de guerra.

Como estava o menino?

Tyska – Essa criança tinha sangue no rosto, mas não sei dizer se tinha lesão mais aparente porque foquei em dirigir. Minha enteada não hesitou em fazer ventilação boca a boca. Ela disse que estava com respiração ruim e batimentos cardíacos muito lentos para a idade. Quando a gente chegou ao hospital, a criança foi imediatamente para a sala vermelha.

Vocês ficaram esperando?

Tyska – Sim, do lado de fora, enquanto a equipe do hospital seguia com as tentativas de ressuscitação. Conversei um pouco com a avó da criança. Ela estava tão nervosa que não soube dar as informações. Ainda não sabia do óbito.

E o policial?

Tyska – Ficou por lá. Chamei ele. O rapaz se abraçou em mim. Chorava copiosamente. Pedi para se acalmar, tentando consolá-lo, dizendo que havia sofrido acidente em atitude nobre, tentando salvar uma criança. Esse menino (policial) precisa de apoio. Está se sentindo culpado. Pela nossa experiência, a gente sabe que, em ocorrência com criança, o nível de adrenalina é muito mais elevado. Todos foram heróis, mas, mesmo fazendo o melhor, não obtivemos êxito. O que a Cláudia e a Bárbara fizeram em pouco espaço é digno de um lugarzinho no Céu.

Pelo o que o senhor viu, o que pode ter acontecido?

Tyska – Os 3 PMs e avó não sofreram praticamente nada pela gravidade da ocorrência. Só a criança. Provavelmente essa criança estava nos braços de um PM ou da avó e, pelo fato de estar nos braços, não se consegue segurar quando o carro capota, Mas é muito difícil fazer um juízo. São profissionais da segurança. Quando se depararam com a criança convulsionando, o primeiro ato é de salvar e imprimiram toda a ação para chegar rápido ao hospital. Deu tudo errado para essa criança. Convulsionou e durante o socorro sofreu acidente porque a viatura foi tocada por outro carro, cujo motorista ficou em estado de choque. Agora como pai, vou acompanhar a situação.

Por quê?

Tyska – Só pensávamos em salvar a criança. Pelo fato da ventilação boca a boca, se sujando com sangue, minha enteada hoje precisou fazer exames e vai ter que tomar medicação por 28 dias porque a gente não sabe o que essa criança teve. Para nós é crucial saber. Podia ter uma meningite meningocócica, que é uma doença grave.

Médico apontou parada cardíaca e politraumatismos

O atestado de óbito de Miguel, assinado pelo médico plantonista, aponta que o menino chegou ao hospital com parada cardiorrespiratória e politraumatismos, por volta das 22 horas de domingo. O menino, que morava com a família no bairro Rondônia, completou 2 anos no último dia 8. Será enterrado às 9 horas desta terça-feira (30) no Cemitério Municipal de Novo Hamburgo. Conforme familiares, ele passava por tratamento médico em razão de crises convulsivas.

Miguel foi levado pela avó ao quartel da Brigada Militar, com convulsão, e colocado às pressas em uma viatura modelo Duster. Na Rua Bento Gonçalves, quase na esquina com a Flores da Cunha, no bairro Boa Vista, o veículo foi atingido por um Prisma, capotou e bateu em outros dois carros estacionados na frente de um condomínio residencial.

“Estou em reunião com minha advogada. Não posso falar”, desconversou, na tarde desta segunda-feira, o condutor do Prisma, um hamburguense de 62 anos. Ele prestará depoimento ao longo da semana. Conforme o diretor da Polícia Civil no Vale do Sinos, delegado Eduardo Hartz, um inquérito foi aberto pela 1ª DP de Novo Hamburgo. “Foram realizadas perícia de local de crime e a necropsia para se buscar a causa da morte”, declara. Segundo ele, todos os envolvidos no acidente, parentes da criança e testemunhas serão ouvidos ao longo da semana.

BM emite nota

A Brigada Militar, que no local do acidente omitiu à reportagem a ocorrência de socorro a uma criança, emitiu nota de pesar. Nela, diz que um PM iniciou os primeiros socorros ainda no batalhão e chamou colegas para que o menino fosse levado ao hospital. “A criança, com cerca de dois anos de idade, recebeu atendimento no hospital, mas infelizmente não resistiu.”

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