Sara Oliveira, 31 anos, viu um anúncio no Instagram que acreditou ser a solução para o problema que tinha em casa: uma geladeira Consul seminova à venda pelo preço de R$ 1.500, valor considerado muito abaixo daquele visto nas lojas.
“Fiz toda a negociação pelo WhatsApp”, relata. “Só que depois de fechar o negócio um policial entrou em contato comigo. Ele me disse que o produto era roubado e eu estava me tornando cúmplice. Fiquei apavorada, porque nunca tinha me envolvido com algo assim.”
Levou um tempo para “cair a ficha”, relata a vítima. Sara acabou caindo em um golpe que vem se tornando comum e já fez nove vítimas em Canoas: o golpe do eletrodoméstico foi arquitetado por um grupo de criminosos visando lucrar fácil por meio das redes sociais.
Os crimes entraram no radar da 3ª Delegacia de Polícia (DP) de Canoas. Conforme a delegada Luciane Bertoletti, os casos têm se multiplicado nas últimas semanas, razão pelo qual ela abriu um inquérito para apurar os crimes. Chegou à conclusão que se trata de uma organização criminosa.
“A apuração ainda é preliminar e não temos nenhuma ação efetiva ou mesmo suspeitos por trás dos golpes”, avisa. “No entanto, já sabemos que é um grupo que está fazendo vítimas, já que os relatos das vítimas são idênticos de como acabaram enganadas após pagar valores por eletrodomésticos”.
Segundo a delegada, até que a Polícia Civil consiga chegar aos golpistas, o mais importante, de imediato, é que a população da cidade entenda que os servidores do órgão não ficam mandando mensagens por WhatsApp para falar de investigações em curso.
“A Polícia Civil não entra em contato com alguém para avisar que produto X ou Y é oriundo de um roubo”, frisa. “E menos ainda para dizer que está investigando um caso. Isso é golpe e basta a vítima procurar a delegacia mais próxima de casa e relatar o que está acontecendo”, orienta.
Luciane também defende que é preciso redobrar os cuidados com o marketplace no Facebook, por exemplo. Os preços atrativos, afinal de contas, acabam servindo de chamariz para os golpes e não há emissão de nota fiscal envolvida no negócio.
“Se o preço é baixo, desconfie”, alerta. “Além disso, não dá para tratar tudo na base da informalidade e troca de mensagens. Eletrodomésticos são caros e se o vendedor não pode emitir uma nota fiscal, é melhor desistir sob a suspeita de golpe”.
Mais vítimas
O caso apurado pela Polícia Civil em Canoas é apurado em paralelo a outro crime rumoroso envolvendo aparelhos eletrodomésticos: a 1ª Delegacia de Polícia (DP) está em fase de conclusão do inquérito envolvendo a loja on-line Tá di Zuera, envolvendo o humorista Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di.
São centenas de vítimas no Brasil inteiro que compraram produtos na época em que Nego Di se valia da popularidade alcançada no programa Big Brother Brasil. Isso porque, pensando na credibilidade da imagem do humorista que promovia a loja, as pessoas compraram produtos que nunca foram entregues.
O inquérito corre em segredo, segundo o delegado Marco Guns, que responde pela 1ª DP de Canoas.
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Sem retorno
A reportagem entrou em contato com a Meta, empresa dona das redes Facebook, Instagram e WhatsApp, para saber se a empresa está ciente dos crimes que tem acontecido por meio das redes. Porém, até o fechamento desta matéria, não houve retorno.