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CHEIA NOS RIOS

"Tá muito difícil": Moradores falam da aflição por mais uma cheia do Rio dos Sinos

Em Sapiranga e Campo Bom, barcos e retroescavadeiras são usadas no transporte de pessoas

Dário Gonçalves
Publicado em: 29/09/2023 às 20h:52 Última atualização: 17/10/2023 às 22h:58
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O ano de 2023 tem sido difícil para Samuel Conceição Machado, de 22 anos. O jovem, que mora com outras dez pessoas, incluindo crianças, em duas residências em Porto Palmeira, em Sapiranga, já enfrenta a quarta enchente em três meses. Na primeira, em junho, perdeu tudo, e desde então convive com a incerteza e apreensão de novamente ter que recomeçar.

Moradores se arriscam na água para voltar para casa | Jornal NH



Moradores se arriscam na água para voltar para casa

Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

Desta vez, a partir do momento em que a água transbordou o Rio dos Sinos no início da semana, se mantém aflito ao monitorar a enchente subindo pelas ruas e campos, enquanto torce para não entrar em sua casa. Samuel e os demais estão abrigados no alojamento montado pela Prefeitura no ginásio da Escola Dr. Décio. Atualmente, está afastado do trabalho por conta de um ferimento em sua mão e, assim, pelo menos uma vez ao dia volta para casa para verificar a situação e cuidar dos animais.

“Minha mulher é quem está trabalhando, então ela não tem como voltar para casa. Quando retorna, fica no alojamento. Tá muito difícil e complicado”, afirma.

Desolado, já sugeriu à mãe para venderem a casa e se mudarem para um lugar mais seguro, mas a alternativa é complicada. “Não é fácil vender uma casa em que as pessoas sabem que enfrenta enchentes”, diz.

A Defesa Civil segue atuando para levar e trazer os moradores de barco, no entanto, a demanda é grande e exige muitas viagens. À espera do transporte, Samuel e outro morador que precisava tirar a mãe de casa, decidiram enfrentar a estrada a pé. A água já estava na altura dos joelhos quando um outro morador apareceu em um pequeno barco a remo e fez o “resgate” dos vizinhos.

Noite na estrada

Jeison Jaques, de 33 anos, trabalha como caminhoneiro entregando mercadorias para uma loja de colchões de Sapiranga. Sua casa, também em Porto Palmeira, não é atingida pela enchente por ficar em um terreno mais alto, porém, isso faz com que a residência permaneça ilhada enquanto a água deixa a rua submersa. Assim, na manhã de quinta-feira (28), vestiu botas e uma jardineira macacão de pescador, que lhe garantiu proteção até a altura do peito, e atravessou cerca de um quilômetro de água pela cintura para ir trabalhar. Para não repetir a situação, passou a noite na estrada, dormindo dentro do caminhão.

“O pessoal tem medo que a correnteza aumente e acabe levando as casas. Um colega meu, tem 50 anos, e perdeu tudo duas vezes só neste ano”, conta Jeison. Ele já se preparava mais uma vez para entrar na água a pé, quando o barco da Defesa Civil retornou e pôde atravessá-lo junto a outros moradores.

Campo Bom

No bairro Barrinha, em Campo Bom, a situação é semelhante. A água corre pelas ruas como se elas fizessem parte do leito do Sinos e retroescavadeiras passam de um lado para o outro levando moradores aos seus destinos.

Na Rua Pio XII, é preciso tomar cuidado com a correnteza, pois até os quebra-molas desaparecem. Agenor Reis dos Santos, 69, enfrenta os transtornos mais uma vez. Mas, ao menos desta vez, a água ainda não entrou dentro de casa. “Está na área, mas estamos sempre alertas. Levantamos tudo o que pudemos dentro de casa e colocamos tijolos embaixo da cama para ergue-la e podermos dormir. Mas passamos a noite na aflição”, relata.


Nascido e criado na Barrinha, Paulo Ricardo de Souza, 54 anos, voltava para casa na tarde desta sexta-feira (29), caminhando em meio à água quando parou para conversar com a reportagem e alertar sobre o perigo. “Nós moramos em cinco lá em casa, sendo um menino de 12 anos, e não deixamos ele ir para a escola. Não tem como deixar uma criança passar nessa situação. Basta um escorregão para cair e acontecer uma tragédia”, comenta.

De certa forma, ele está acostumado a enfrentar essas situações, mas normalmente as enchentes acontecem uma ou duas vezes por ano. Contudo, tantas assim em um espaço curto de tempo, é novidade e ele pede a Deus que a situação melhore. “Agora vou voltar pra casa e tomar um banho quente e um café pra se esquentar”, se despede com um sorriso no rosto.

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